Os
itens abaixo procuram garimpar e selecionar os textos bíblicos que, tanto no
Antigo quanto no Novo testamento, fazem referência à questão das migrações.
Estas podem ser voluntárias ou compulsórias (com forte destaque para as
últimas). Enquanto na grande maioria desses textos a referência à mobilidade
humana é bastante explicita, em alguns ela permanece velada. Funde-se com a
situação de diferentes grupos ou circunstâncias análogas a essa vasta problemática
dos movimentos humanos de massa. Não podemos esquecer, entretanto, que os
escritos bíblicos, direta ou indiretamente, se originam no contexto cultural do
Povo de Israel, povo historicamente marcado pelo fenômeno migratório, pelo
desenraizamento e pelos deslocamentos frequentes e forçados – povo errante
pelas estradas do êxodo, do deserto, do exílio e da diáspora.
1. Vocação do patriarca Abraão (Gn
12, 1-9)
Abraão
deve “deixar a sua terra e a casa de seu pai”
Responde
ao projeto de Deus em vista da Terra Prometida
O
binômio da promessa: terra e uma grande descendência
Abraão
hospeda os mensageiros de Deus – Carvalho de Mambré (Gn 18, 1-10).
2.
Israel
imigrante na terra do Egito (Livro do Gênesis,
capítulos 37 – 50)
História
de Jacó, José, seus irmãos e a emigração para o Egito
A
migração tem raízes nas adversidades socioeconômicas:
A
fome leva o povo a buscar alimento na terra do Egito (capítulo 41)
Mas
José descobre que o Egito não é a Terra Prometida (capítulo 50)
3. Processo de libertação da terra do
Egito (Livro do Êxodo)
Libertação
da escravidão sob o poder do Faraó (Ex 3, 7-10)
Paralelo
com o chamado “credo histórico de Israel” (Dt 25, 5-10)
Moisés
e a libertação: experiência fundante do Povo de Israel
O
Deus vivo que “vê, ouve, conhece e desce” para libertar o povo
Caminha
com ele pelas estradas do êxodo e do deserto, do exílio e da diáspora
4. O cuidado com o estrangeiro: lembra-te
que foste escravo no Egito
A
experiência de imigrante e escravo: lição para a relação com o “outro”
O
trinômio do Antigo Testamento: defesa do órfão, da viúva e do estrangeiro
O
direito do pobre, dos excluídos e do estrangeiro (Ex 22, 17-27)
Deus
protege aquele cuja vida é ameaçada (Lv 19, 9-14)
Justiça
pronta e diária para com os trabalhadores (Dt 24, 14-15)
5. Livros profético-sapienciais (“novelas”
que transmitem um ensinamento)
Livro de Tobias:
Identidade de Israel, especialmente em situação de diáspora
Livro de Rute:
A luta do povo pelos seus direitos (tempo do exílio)
Livro de Jonas:
A misericórdia de Deus não tem fronteiras (tempo do exílio)
Profeta Ezequiel (cap.
37): “os ossos secos” e a restauração do povo
Escritos
que expressam a cultura de um povo desenraizado e a caminho.
6. O mistério da encarnação do “verbo
que se faz carne” (Lc 2, 1-14)
O
decreto do imperador Augusto e a viagem para Belém
O
Verbo se faz carne e arma sua tenda em meio à nossa história
Jesus
se faz migrante no seio de Maria e no interior da família de Nazaré
“Maria
deu à luz o seu primogênito, o enfaixou e o colocou na manjedoura”
Diz
o evangelista: “não havia lugar para eles dentro de casa” (Lc 2, 7)
7. Prepotência do rei Herodes: fuga
para o Egito (Mt 2, 1-23)
O
Menino Deus sofre a condição de refugiado e tem de sair do próprio país
Jesus-Maria-José
ameaçados e fugitivos no Egito: ida e retorno
Deus
se manifesta através dos sonhos e dos anjos, seus mensageiros
Uma
família sábia e atenta aos “sinais de Deus na história”
8. O chamado “programa de Jesus” no
início do seu ministério (Lc 4, 14-21)
O
“programa” é extraído do Livro do profeta Isaías (Is 61, 1-3)
Jesus
na Galileia: “O Espírito do Senhor está sobre mim... “
Ele
enviou-me “para anunciar a Boa Notícia aos pobres...”
“Para
proclamar a libertação dos presos...”
“Para
libertar os oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor”!
Os
“migrantes, refugiados e marítimos” entram na lista desses rostos
9. O profeta itinerante de Nazaré (Teologia
de John P. Meier)
“Jesus
percorria todas as cidades e povoados...” (Mt 9, 35-38)
A
compaixão diante das “multidões cansadas e abatidas”
Entre
essas multidões podemos identificar os “diferentes rostos dos migrantes”
Paralelo
com os rostos do Documento de Puebla (Doc. Puebla, n. 31-39)
10. Pobre, marginalizado e migrante
como critério de salvação
Pergunta
o mestre da lei: O que fazer para ganhar a vida eterna, para salvar-se?
Parábola
do Bom Samaritano: “Vá e faça a mesma coisa” (Lc 10, 25-37)
Parábola
do Juízo Final: “eu era migrante e me acolheste”
Ou
“eu era migrante e não me acolheste” (Mt 25, 31-46)
A
salvação depende da atitude de cada um diante do pobre necessitado.
11.
Episódio
de Emaús – “evangelho” da Pastoral dos Migrantes (Lc, 24,
13-35)
Na
estrada de Emaús, o “forasteiro” caminha com os discípulos em fuga
Eles
estavam tristes, abatidos e cabisbaixos devido à tragédia da cruz
O
encontro, o convite e o reconhecimento na “benção e partilha do pão”
O
retorno alegre, entusiasta e com “um novo ardor missionário”
Dois
discípulos medrosos se convertem em dois missionários ardorosos
12. Primeira Carta de Pedro (1Pr), escrita
aos estrangeiros
Cfr.
O texto da “apresentação” na Edição Pastoral da Bíblia
“Pedro,
apóstolo de Jesus, aos que vivem dispersos como estrangeiros” (v 1,1)
Cristãos
que tinham deixado suas raízes, os parentes e amigos...
Situação
de isolamento, preconceito, discriminação e hostilidade...
A
união entre os migrantes perseguidos é a “casa de Deus”;
União
entre os migrantes como sinal de coesão e resistência.
13.
Testemunho
do Apóstolo Paulo (Atos dos apóstolos e Cartas paulinas)
Transformação
de “Saulo” em “Paulo”: de perseguidor a apóstolo
O
encontro com o Ressuscitado no caminho de Damasco (Atos, capítulo 9)
Diálogo
com os atenienses com seus deuses (Atos, capítulo 17)
O
apóstolo das gentes: não há fronteiras para a Boa Nova do Evangelho
As
comunidades urbanas de Paulo: encruzilhadas de viajantes
Sem
orgulho e sem falsa humildade: “combati o bom combate” (2Tm 4, 6-8)
14. A cidadania universal da Igreja e
do Povo de Deus (Ef 2, 19-22)
“Vocês
não são estrangeiros nem hóspedes, mas concidadãos...”
“Vocês
pertencem ao edifício que tem como alicerce os apóstolos e profetas...”
“Vocês
também são integrados nessa construção [do Reino de Deus]...”
O
plano de salvação não tem fronteiras, está aberto a todos.
15.
O
hino da encarnação e da humildade (Fl 2, 6-11)
Jesus
“tinha a condição divina, mas não se apegou à sai igualdade com Deus”,
Ao
contrário, “esvaziou-se a si mesmo, a sumindo a condição de servo”,
“Humilhou-se
a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz”
Deus
“desce” e se faz homem, para que nós possamos “subir” à condição divina
“Humilitas” é o lema do carisma
scalabriniano no trabalho com os migrantes.
16. Um novo céu e uma nova terra (Ap
21, 1-8)
A
Jerusalém celeste: remete à profecia de Isaías (Is 65, 17-25)
“Tenda
de Deus com os homens: eles serão o seu povo e Deus-com-eles”
“Ele
vai enxugar todo pranto e toda lágrima dos olhos deles”
“Nunca
mais haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor.
Conceitos
de “Reino de Deus”, “Jerusalém Celeste”, “Terra sem males”
Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs,
vice-presidente do SPM
Botafogo, Rio de Janeiro, 10 de
agosto de 2020
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