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sexta-feira, 29 de setembro de 2017

CAMPANHA COMPARTILHE A VIAGEM DO PAPA FRANCISCO

                                                                                        Se queres a paz, lute pela justiça.





No dia 27 de Setembro de 2017 com o lema: “Compartilhe a viagem” o Papa Francisco como Ação da Igreja Católica através da Caritas Mundial fez a abertura da mesma a todos homens e mulheres de boa vontade, Instituições, Organizações, Igrejas, Governos e Tradições Religiosas com o objetivo de promover a cultura do encontro e da partilha, motivar pessoas, grupos e comunidades a pensar suas práticas em relação aos migrantes e refugiados.
Uma das perguntas mais importantes que podemos nos fazer como indivíduos comunidades e países, nestes momentos de deslocamentos em massa de pessoas e de tanta incerteza é: “Eu permito que o medo prevaleça em meu coração, ou deixo que reine a esperança”?

1-CHAMADO DO CARDEAL TAGLE A TODOS HOMENS E MULHERES DE BOA VONTADE
2-ALGUMAS ORIENTAÇÕES PARA O BOM ÊXITO DA CAMPANHA (Para o bom êxito da campanha podemos nos fazer algumas importantes perguntas, tendo consciência de que as respostas não são suficientes).
O que queremos com esta campanha?
  • -Promover a cultura do encontro que permita a toda sociedade dialogar sobre a realidade da migração.
  • Para falar sobre os direitos é preciso acolher, encontrar, reconhecer o outro e a outra como sujeitos, irmãs/irmãos.
  • Espaços para que os migrantes e refugiados possam compartilhar suas histórias e trajetórias.
  • A Caritas acredita que a cultura do encontro permite tocar a sensibilidade das pessoas: é preciso conhecer as realidades, as histórias, as alegrias e dores de quem está em situação de migração.
  • Escutar: de onde migram? Quais a realidades que motivam a migração? Por onde migraram/migram? Com quem se encontram ao longo da “viagem”?
Em relação à Incidência e Advocacy?
  • Incidência junto aos organismos internacionais, com destaque para o processo de elaboração de dois novos pactos globais da ONU (um sobre Migração e outro sobre Refúgio) que devem ser adotados na Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro de 2018.
  • Consultas nacionais e regionais entre fevereiro e julho de 2018.
  • E no Brasil? Como vamos construir processos de incidência?
Em relação às possibilidades de ações nos Países?
  • Construir um plano de ação da Campanha Mundial em cada país (Caritas Nacional, regionais e entidades membro).
  • As atividades precisam ter como foco a promoção da cultura do encontro.
  • Como possibilitar que os migrantes e refugiados compartilhem suas histórias com nossas comunidades? O que nossa gente pensa sobre a migração?
3-DATA E MOMENTOS IMPORTANTES (Atenção para algumas datas importantes para a realização da campanha durante os três anos para sua realização):
  • Julho/setembro 2017: elaboração dos planos nacionais, produção dos materiais de comunicação. Será lançado um site mundial com informações específicas sobre a Campanha.
  • 27 de setembro/2017: Lançamento da Campanha com o convite/motivação do Papa Francisco.
  • A partir de fevereiro/2018: Negociações sobre os Pactos Globais da ONU.
  • Junho/2018: Semana Global sobre Migração e Refúgio.
  • Setembro/2018: Negociações para aprovação dos Pactos Globais na Assembleia da ONU.
  • Maio/2019: Assembleia Geral da Caritas Internationalis
  • Final de 2019: Encerramento da Campanha.
4-CRISE ÉTICA, SOCIAL E ECOLÓGICA, OPORTUNIDADE PARA UMA NOVA CONSCIÊNCIA
Com esta campanha “partilhando a viagem” queremos ao mesmo tempo denunciara as causas injustas da migração e do refúgio forçado, anunciar um mundo novo possível e celebrar a cultura da partilha e do encontro numa relação fraterna e solidária com o outro que é diferente e igual e por isso tão semelhante convivendo ao nosso  lado, conforme a afirmação do papa Francisco em sua encíclica “laudato si” em sua proposta no resgate e na construção de uma ecologia integral como novo paradigma: o cuidado corresponsável.  “tudo está relacionado e todos nós, seres humanos, caminhando juntos como irmãos e irmãs numa peregrinação maravilhosa, entrelaçados pelo amor que deus tem a cada uma de suas criaturas e que nos une também, com terna afeição, ao irmão sol, à irmã lua, ao irmão rio e à mãe terra” (n. 92)
Em outras palavra Leonardo Boff em seu livro “Casa Comum, a Espiritualidade e o Amor” também nos chama a atenção para o cuidado e a responsabilidade que todos  temos com a criação, e que hoje por causa da depredação e do consumismo se rebela com violência nos seus mais diferentes fenômenos climáticos causando morte, destruição e um êxodo forçado sem precedentes na história “A Mãe Terra não criou apenas os seres humanos, mas todos os seres da comunidade de vida que precisam de seus nutrientes, de água, de fibras e de solo férteis. Estamos todos interligados, formando uma vasta rede de conexões. São elas que nos mantém vivos dentro da única Casa Comum”
Para superarmos estas condições e esta situação causa da ganância e do egocentrismo humano continua nos alertando o documento Laudato Si “Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo… Isto requer uma nova mudança na mente e no coração. Requer um novo sentimento de interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com imaginação a visão de um modo de vida sustentável aos níveis local, nacional e global” Nesta direção os Povos originários e Indígenas são especialistas e nos ensinam como devemos viver numa convivência fraterna e com o necessário para todos através do sistema do “Bem Viver” um outro sistema urgente, necessário e possível.
Por outro lado e paralelamente a tudo isso que estamos vivendo e convivendo com preocupantes vazios éticos e desmandos políticos carregados de confusão e de interesses corporativos, diante de ideologias nacionalistas que defendem a soberania, a construção de muros, (Hoje se constitui um dos maiores negócios do capital) a segurança nacional… sem levar em conta em primeiro lugar a segurança das pessoas.
É urgente acabar e romper, com todo tipo de visão e mentalidade belicosa que tanto destrói e mata. A guerra não tem nada de bom e nada contribui para a vida. Na guerra todos perdem. A construção de armas é um absurdo humano sem nenhum sentido existencial, porque nascemos para a vida e fomos criados para a paz.
É urgente acabar com todo tipo de ganância e de concentração de riquezas e de terras, na ilusão de encontrar a realização no acúmulo de coisas. Esta concentração cada vez maior como políticas de governos, corporações, autoridades nacionais e internacionais sem escrúpulos e sem ética está causando todo tipo de violência, morte e destruição do planeta, dos povos e da sociedade. Eles não têm mais autoridade moral para exigir coerência e obediência de ninguém por isso a campanha quer revelar as causas profundas e injustas de um sistema que é: “…insuportável que exclui, degrada e mata” conforme afirmou o Papa Francisco em seu II Encontro com os Movimentos Sociais na Bolívia, e propõe, uma sociedade que acolhe cuida e ama ao próximo. Temos a convicção e acreditamos nas palavras de Paulo VI “A justiça é o novo nome da paz”. Por isso a importância e a urgência desta campanha na construção de uma cultura do encontro e da partilha entre todos os semelhantes da família humana
Estamos vivendo uma crise societária em três dimensões: ética, social e ecológica como consequência do Sistema Capitalista injusto, contraditório e perverso que se revela violento no que há de mais sagrado: A criação e as pessoas, ou seja: Na concentração de capital e riquezas e na exclusão dos que produzem e constroem a humanidade, os trabalhadores e trabalhadoras, do campo e da cidade.
Neste contexto não se trata de uma crise humanitária como a mídia divulga e anuncia aos quatro ventos, porque a verdadeira crise causadora da migração e do refúgio forçados, excluindo e descartando milhões de seres humanos de seus direitos, aumentando cada dia mais as vítimas do tráfico de pessoas nas suas mais diversas modalidades, na construção de leis migratórias excludentes e de políticas migratórias xenófobas e excludentes protegendo a livre circulação dos mercados e impedindo a liberdade sagrada das pessoas da possibilidade de ir e vir obrigando-as à servidão, escravidão e exploração insaciáveis  e causando todo tipo de destruição e de violência ao Planeta nossa casa comum e uma migração massiva e complexa sem precedentes na história.
Neste sentido sublinhamos e queremos denunciar com veemência que este mesmo sistema perverso de concentração e exclusão é o verdadeiro causador dos desequilíbrios climáticos e ecológicos no Planeta que por sua vez são a causa de expulsão forçada de milhões de seres humanos obrigados a fugir para salvar suas vidas e sobreviver em outros lugares, inclusive muitos destes nossos irmãos (as) acabam se encontrando sem Pátria e sem nacionalidade porque seus Territórios desapareceram ou foram usurpados. Atualmente existem milhões de Apátridas (Pessoas sem Pátria e sem Nacionalidade). Mais de cem mil crianças menores desacompanhadas, mais de 65 milhões de refugiados, mais de 250 milhões de migrantes fora de seus lugares de origem. Milhões de vítimas da droga e do tráfico de pessoas têm todo o direito de buscar segurança, paz e o mínimo necessários para viver com dignidade. Enquanto não formos capazes de reconhecer as causas verdadeiras da crise sistêmica e endêmica, sempre iremos buscar justificativas para a manutenção da mesma. Neste momento histórico infelizmente os migrantes e refugiados são o bode expiatória da crise. Viver de falsas ilusões não favorece a nada e a ninguém.
5-DESAFIOS E NOVOS HORIZONTES
Que esta crise seja uma “oportunidade para imaginar outros mundos”. Que possibilite reconstruir e reinventar novas relações de fraternidade e de partilha. Que nos possibilitem a rever e a reconstruir estruturas justas e solidarias para todas as pessoas e para todas as formas de vida no Planeta. De modo especial que desperte uma nova consciência ecológica e humanitária para salvar o planeta e para uma vida segura, feliz e com dignidade para todos.
O rosto mais perverso como consequência deste sistema injusto sem dúvidas é a migração forçada de milhões de refugiados e imigrantes que fazem da sua fuga o gesto de resistência e de denúncia mais forte e mais verdadeiro gritando ao mundo que a vida é mais forte que todo tipo de violência, ao mesmo tempo anunciam que a morte não é a última palavra. Sonhamos com um mundo novo possível, justo e solidário para todos e m que a nossa casa comum, o Planeta seja cuidado e no qual tenhamos as condições, recursos e meios necessários para uma vida digna.
O Papa Francisco desde seu primeiro gesto profético, solidário e fraterno de seu pontificado em Lampeduza – Itália chama, e conclama a todos com a seguinte pergunta: Onde está teu irmão? Quem chorou por eles? No início deste ano na abertura do VI Fórum Mundial de Justiça e Paz em Roma na Itália (Processo organizado pela Rede SIMN – Scalabrinianos em parceria com outras diferentes Organizações e Instituições) convida e desafia as Igrejas, Governos, Sociedade Civil Migrantes, Refugiados, Organismos, Instituições… para viver e aprender a conjugar na primeira pessoa do singular e na primeira pessoa do plural a prática os quatro verbos: acolher, proteger, promover e integrar.
Esta campanha quer contribuir para o fortalecimento de uma nova consciência pessoal, comunitária e social para com o cuidado integral ema todas as expressões de vida no planeta onde todos os seres vivos tenham garantido o necessário para viver com dignidade, para que caminhemos com a certeza de que a utopia da cidadania universal é possível e de moldo especial para que possamos entender ver e, sobretudo sentir que o migrante e o refugiado é o lugar teológico por excelência onde Deus se revela.
Agradecemos a todas as pessoas e Instituições comprometidas nesta causa e acreditamos que este pequeno, mas significativo trabalho coletivo é o caminho seguro para grandes mudanças na certeza de que somente juntos podemos solucionar grandes problemas e participando, podemos fortalecer a democracia tão violentada, pisada e ultrajada em nossos dias no mundo e em nosso País.
Que esta nossa campanha envolva a todos e todos nos comprometamos para construir um mundo novo possível, urgente e necessário e que possamos colher frutos de justiça, paz, solidariedade e fraternidade.
“Não me importa chegar tarde, o que me incomoda é chegar sozinho” (Martim Fierro)
Roberto Saraiva, Patrícia Rivarola, Pe. Mário Geremia CS

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

22ª ROMARIA DO MIGRANTE

A Romaria do Migrante surgiu em 1994, há 22 anos, com a presença dos padres Escalabrinianos - Missionários de São Carlos, os quais vieram à Paraíba trabalhar com os migrantes, ou seja, acompanhando e visitando os migrantes e buscando alternativas para combater a migração forçada de trabalhadores rurais para o corte de cana no Estado de Pernambuco e também da Paraíba.

Neste contexto, Pe. Alfredo José Gonçalves (Pe. Alfredinho) teve a idéia de criar um momento de reflexão, sobretudo com as comunidades originárias da migração, sobre esta temática, surgindo assim a Romaria do Migrante.

A escolha da cidade de Fagundes se deve primeiramente pelo alto índice de migrantes que a região abrigou na década de 90 (Fagundes, Itatuba, Ingá dentre outros municípios).

Esse ano, a Romaria traz como tema - Migração, Biomas e Bem Viver: Uma Oportunidade de Imaginar Outros Mundos, e será realizada no dia 12 de Novembro de 2017, a partir das 6 horas da manhã, no município de Fagundes/PB.



 Acolhida Sim, Discriminação Não! 

Serviço Pastoral dos Migrantes do Nordeste - SPM NE

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Diante de representantes de 300 nações, ASA recebe o "Oscar das políticas públicas"


“Numa cerimônia bonita, rica, pomposa, com mais de 500 pessoas, a experiência da ASA acaba de ser premiada como política para o futuro e como experiência exitosa de combate à desertificação com o segundo lugar mundial”, anuncia Naidison Quintella, da coordenação nacional da ASA pelo estado da Bahia, após o recebimento do prêmio Política para o Futuro (Future Policy Award, em nome original), em Ordos, na China, na manhã de hoje no horário do Brasil.
A premiação reconheceu a política pública Programa Cisternas, construída entre a sociedade civil, representada pela ASA, e o governo brasileiro, como uma das mais eficazes medidas mundiais para se combater a desertificação do solo e suas graves consequências sociais. O governo brasileiro foi representado pelo Chefe do Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, Marcelo Böhlke.
O prêmio, considerado o "Oscar internacional para as melhores políticas", homenageia leis e práticas que combatem com sucesso a desertificação e a degradação da terra e é concedido pelo World Future Council (WFC), em cooperação com a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD). Além do Brasil, iniciativas da Etiópia e China também estão entre as laureadas. 
Para Naidison, a premiação de hoje, concedida diante de representantes de 300 ministros e convidados de alto nível de nações em todo mundo, “significa um reconhecimento imenso. Isso significa que a ASA não pode abrir mão de seu projeto de convivência com o Semiárido, não pode abrir de trabalhar com os mais pobres, não pode abrir mão de construir com os agricultores e agricultoras, com os marginalizados, a convivência com o Semiárido. É isso que trago hoje no meu coração. É isso que aquela multidão que nos aplaudiu nos diz que nossa ação é digna de nota, nos diz que nossa ação é bonita, nos diz que nossa é boa e que nós devemos continuar a luta.”
A cerimônia de premiação foi realizada durante um evento que o governo chinês fez para o alto comissionado da UNCCD. A China sedia a 13ª sessão Conferência das Partes da UNCCD (COP 13) até o dia 16 deste mês.

Há 18 anos, no evento paralelo à terceira edição da COP, realizada no Recife, organizações que atuavam na região Semiárida lançaram a Declaração do Semiárido Brasileiro, considerada um marco para a fundação da ASA e para a ruptura com o paradigma do combate à seca.

“A Declaração aponta medidas estruturantes para o desenvolvimento sustentável da região, pauta um conjunto de medidas políticas e práticas de convivência com o Semiárido e, nesse contexto, propõe a formulação de um programa para construir um milhão de cisternas no Semiárido Brasileiro”, diz o site da ASA. É justamente o Programa Um Milhão de Cisternas, cuja construção foi iniciada há dez edições da COP, a semente que permitiu a construção do Programa Cisternas.

Sobre a premiação – A 10ª edição do Prêmio Política para o Futuro objetiva chamar mais atenção para a desertificação e formas efetivas de combatê-la. Segundo o texto oficial de divulgação, “no século passado, as secas custaram mais vidas do que qualquer outra catástrofe relacionada com o clima. As mudanças climáticas intensificam o processo de desertificação. As ações para combater a desertificação, portanto, não só contribuem para proteger o meio ambiente, mas também podem proporcionar estabilidade social e política.”

Com mesa de diálogo e teatro, Paraíba lança Campanha pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico

Antes de dar início à mesa, Adriana Galvão Freire, da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e do GT Mulheres e Agroecologia da ASA, deu as boas vindas e falou sobre o surgimento da Campanha: “Ao fazer parte de uma pesquisa sobre ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural) e feminismo, a gente percebeu ser comum a todos os grupos e movimentos, a invisibilidade do trabalho das mulheres, principalmente no que se diz ao trabalho doméstico, então vimos a necessidade de se produzir a Campanha, mesmo sabendo do desafio que é mexer em privilégios”, disse. Foi exibido então a vídeo-animação, que mostra o cotidiano de uma família camponesa que encontrou os caminhos para a divisão justa do trabalho doméstico.


A agricultora e liderança do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Esperança-PB e do Polo Sindical da Borborema, Marizelda Salviano, deu o seu testemunho positivo: “Sou sindicalista, tenho três filhos, esposo, e eu sinto que há uma compreensão na minha família para em momentos como este, em que eu me afasto, eles estão lá, cuidando. Acho que é o entender dele de dizer ‘ela se sente feliz fazendo o que ela faz’. É você chegar em casa e sentir essa paz”.

Dando início à mesa, Chirlene dos Santos Brito do Sintrad-CG apresentou o resultado da pesquisa “Trabalho, tempo e direitos: um estudo com trabalhadoras domésticas” realizado em parceria com o Centro de Ação Cultural – Centrac. Chirlene falou ainda sobre os desafios da sua categoria e da necessidade de políticas públicas que dêem o suporte necessário às mulheres: “A gente sente a dificuldade pelas creches não serem mais de tempo integral, isso gerou um grande problema para nós. Com quem vamos deixar os nossos filhos quando saímos para cuidar dos filhos do patrão? Se nós já somos remuneradas para cuidar dos filhos dos outros, como não pagar e dar os direitos para quem for cuidar dos nossos? A nossa preocupação é de ter essa segurança”, disse.

A segunda a usar a palavra foi a professora Jussara Costa, da UEPB, ela falou sobre a dificuldade de ter um país cuja realidade de desigualdade entre homens e mulheres é estruturante da sociedade e que a divisão sexual do trabalho atual é pensada para determinar que existam funções determinadas para homens e outras para mulheres e justamente as atribuídas às mulheres são as mais desvalorizadas e consideradas como não-trabalho. Elinaide Carvalho, da SEMDH, por sua vez, falou sobre o desafio de trabalhar na desconstrução e desnaturalização do papel que foi dado às mulheres na sociedade: o de mães, esposas, castas e responsáveis pelas tarefas domésticas e que é necessário, cada vez mais, trazer para essa  discussão os homens, para que eles sejam sensibilizados, não só pelas mulheres.

Glória Batista encerrou a rodada de falas e aproveitou a oportunidade para denunciar o corte de 92% do Governo Federal no Programa de Cisternas, que segundo ela, é uma das políticas mais importantes para a garantia da qualidade de vida e autonomia das mulheres no campo. “Temos um programa que acaba de ser premiado como a segunda melhor política pública do mundo no combate à desertificação e que ao mesmo tempo sofre desse corte brutal. Nós sabemos que por muitos anos o papel das mulheres na agricultura foi invisibilizado. O mundo do trabalho da mulher é muito intenso, muito forte, e se a jornada de trabalho fora de casa é igual, porque o trabalho dentro de casa de homens e mulheres deve ser diferente? A gente precisa virar esse jogo e essa Campanha é uma enorme contribuição neste sentido”, finalizou.


Após a mesa houve uma rodada de debate, à partir das provocações das debatedoras. Maria Suelma Tavares, é conselheira tutelar do município de Massaranduba-PB há um ano e nove meses, ela compartilhou um pouco da sua percepção na lida diária: “Dentro da atuação no Conselho, a gente vê muito claro a omissão dos homens com relação aos cuidados com os filhos”, avaliou.


Intervenção de rua

Na parte da tarde, aconteceu na Praça da Bandeira, no Centro de Campina Grande, uma intervenção artística de rua, com ciranda, apresentação teatral, falas públicas e testemunhos. O Grupo de Teatro Amador do Polo da Borborema usou a arte em uma encenação que mostrou a história de Rita e Antônio, um casal que por meio do diálogo, conseguiu dividir as tarefas dentro de casa.

A agricultora Maria de Fátima Silva Santos, de 57 anos, do Sítio Pedra D’água em Juazeirinho-PB, falou sobre a sua experiência de vida: “Eu já nasci trabalhando. Na minha casa eram nove homens e duas mulheres. Minha mãe tirava o leita da vaca e eu ia preparar o café pra uns 20 trabalhadores e de oito horas da manhã, ai de mim, se não estivesse no roçado. Quando casei, foi a mesma coisa. Mas eu cansei, que vida era aquela, só de trabalhar? Eu já adulta, voltei a estudar, coisa que meu pai não me permitia fazer. Hoje não dependo do meu marido ele que depende de mim”.

A campanha surgiu como resultado do processo de construção coletiva da Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), Feminismo e Agroecologia, desenvolvido entre os anos de 2014 a 2017, que reuniu uma diversidade de mulheres de todos os estados do Nordeste. Como um dos frutos dessa pesquisa, surgiu a Rede Feminismo e Agroecologia.

http://centrac.org.br/2017/09/22/com-mesa-de-dialogo-e-teatro-paraiba-lanca-campanha-pela-divisao-justa-do-trabalho-domestico/

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Campanha pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico será lançada em Campina Grande nesta quinta (21)


Com o lema: “Direitos são para mulheres e homens, responsabilidades também!” será lançada em Campina Grande na próxima quinta-feira, 21 de setembro, a Campanha pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico, organizada na Paraíba pelo Grupo de Trabalho (GT) Mulheres e Agroecologia da Articulação do Semiárido Paraibano (ASA Paraíba) e pela Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste.

O lançamento será aberto ao público em geral e acontecerá em dois momentos no dia 21, pela manhã, à partir das 9h, com uma mesa de diálogo com as participações de Gilberta Soares, Secretária de Estado da Mulher e da Diversidade Humana, Jussara Costa, professora da Universidade Estadual da Paraíba e integrante do Grupo de Estudos de Gênero Flor e Flor e Glória Batista, da Coordenação Nacional da ASA Paraíba. Na ocasião, também será exibido o vídeo da campanha, que mostra o cotidiano de uma família camponesa que encontrou os caminhos para a divisão justa do trabalho doméstico e descobriu que com a colaboração de todos os integrantes da casa, sobra mais tempo para o lazer em família. Após mesa, haverá um debate e encerramento com os encaminhamentos acerca das ações da campanha no estado.


O segundo momento será à tarde, à partir das 14h, na Praça da Bandeira, quando haverá um ato público com a presença de mulheres rurais e urbanas vindas de Campina Grande e de outros municípios da região. Haverá uma encenação teatral com integrantes do Grupo de Teatro Amador do Polo da Borborema sobre o tema da campanha e serão distribuídos materiais de divulgação para dialogar com a sociedade.


A campanha surgiu como resultado do processo de construção coletiva da Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), Feminismo e Agroecologia, desenvolvido entre os anos de 2014 a 2017, que reuniu uma diversidade de mulheres de todos os estados do Nordeste. Como um dos frutos dessa pesquisa, surge a Rede Feminismo e Agroecologia.

A iniciativa tem o objetivo de mostrar a realidade e discutir os desafios e opressões comuns vivenciados pelas mulheres, sejam elas camponesas, das cidades, quilombolas, indígenas, estudantes, quebradeiras de coco, pescadoras, professoras.


A iniciativa pretende fazer uma denúncia acerca da sobrecarga de trabalho que as mulheres enfrentam e fazer o anúncio que o trabalho doméstico e de cuidados é algo que necessita ser tratado enquanto responsabilidades de homens e mulheres, apontando a necessidade de discutir com toda a sociedade sua origem, consequências na vida das mulheres, como também propondo uma mudança social: o compartilhamento das tarefas entre as pessoas que moram na mesma casa.

Assessora Técnica AP1MC acompanha Oficina de Educação Contextualizada em Salgado de São Felix, Agreste Paraibano

O Serviço Pastoral dos Migrantes do Nordeste (SPMNE), recebeu a visita da Sarah Vidal - assessora técnica da Associação Programa Um Milhão de Cisternas (AP1MC), durante os dias 12 e 13 de setembro de 2017. Com o objetivo de acompanhar o andamento do projeto Cisterna nas Escolas que está sendo desenvolvido em alguns munícipios paraibanos, ela acompanhou o módulo II da Oficina de Educação Contextualizada, no município de Salgado de São Félix/PB. O encontro foi realizado na Escola José Matias, na comunidade Dois Riachos, escola beneficiada com o programa, e foi conduzida pela monitora pedagógica do SPMNE Amélia Marques.


    
Ao falar sobre a importância de todo o programa, assim como do contexto ao qual está inserido e também da responsabilidade da instituição executora, a assessora ressalta: “É a segunda vez que tenho oportunidade de está aqui com o SPMNE, apesar do pouco contato, dá para perceber o comprometimento da equipe com o projeto com o programa Cisterna nas Escolas, e em especial, que é para além da questão das cisternas nas escolas, mas a questão da Convivência com o Semiárido”.  

Em relação aos momentos vividos na oficina: “Essa vivência que eu tive esses dois últimos dias acompanhando o segundo módulo da Oficina de Educação Contextualizada, no município de Salgado de São Félix, foi muito boa, o que o spm levou para discutir e para alargar a discussão da educação contextualizada, é super contemporâneo e vai de encontro com um novo projeto de sociedade que as organizações que fazem parte da asa acreditam e tentam construir da forma que é possível. Sobre a oficina em si, a metodologia super participativa, dentro dos princípios da construção do conhecimento, os temas levantados, as provocações realizadas, as problematizações todas foram muito pertinentes, aponta. 



Em relação aos educadores e educadoras presentes, evidencia: “de uma sensibilidade muito grande com o contexto local das suas comunidades, a discussão sobre gênero foi muito rica, e importante para eles e para gente, porque foi uma vivência onde as pessoas, especialmente as mulheres, puderam falar delas mesmas, do que sofreram, do que esse modelo patriarcal e machista faz com as mulheres, principalmente com as mulheres rurais. Então estou satisfeita, vou voltar para Recife muito feliz, de ter tido a oportunidade de participar desse evento”.


O PROJETO 
O Projeto Cisternas nas Escolas tem como objetivo levar água para as escolas rurais do Semiárido, utilizando a cisterna de 52 mil litros como tecnologia social para armazenamento da água de chuva. A chegada da água na escola tem um significado especial porque possibilita o pleno funcionamento deste espaço de aprendizado e convivência mesmo nos períodos mais secos.
O projeto abrange escolas dos nove estados do Semiárido (PE, PB, AL, SE, BA, CE, RN, PI e MG) que não têm acesso à água e que foram mapeadas pelo Governo Federal. Essa lista inclui as escolas localizadas em aldeias indígenas e comunidades quilombolas, que devem ser priorizadas nas ações do Cisternas nas Escolas.


Durante o processo de implementação, o programa prevê momentos de mobilização, formação, até a construção, dentre eles: Encontro com Comissões Municipais; Encontro Microrregional, com participação de gestor público e secretaria de educação e comissões municipais; Encontro de Comunidade Local, Encontros de Gerenciamento em Recursos Hídricos em Escolas (GRHE), com auxiliares, merendeiras e merendeiros, porteiras/os escolares, pais e representantes da comunidade; III Módulos de Oficina de Educação Contextualizada, com participação de professores, coordenadores/as pedagógico e diretores.

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Em Natuba: Oficina de Educação Contextualizada

O Serviço Pastoral dos Migrantes do Nordeste (SPMNE), promoveu uma Oficina de Educação Contextualizada para a convivência com o Semiárido, no município de Natuba/PB, entre os dias 31 de agosto a 01 de setembro de 2017. A oficina faz parte do Projeto Cisternas nas Escolas que é financiado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário – MDSA e excetuado pelo SPMNE em parceria com a Articulação do Semiárido Brasileiro - ASA, e envolve três módulos com encontros de dois dias cada um. 

O objetivo da Oficina de Educação Contextualizada é abordar temas diversos com professores para a convivência com o semiárido, por exemplo como é a realidade das escolas do campo, quais os temas a serem trabalhados na educação contextualizada para a convivência com o semiárido, questões de gênero, conjuntura política, etc.

Nessa etapa do programa, além da interação do grupo, foram debatidos temas sobre a análise de conjuntura, contextualização do semiárido, os paradigmas (combate à seca x convivência com o semiárido), os fundamentos e princípios da Educação Contextualizada para a convivência com o semiárido, os aspectos legais que regem a educação do campo. 

O curso foi conduzido pelo Coordenador Pedagógico, Roberto Saraiva, e estiveram presentes cerca de 30 professores e professoras, com um bom envolvimento dos/as participantes, desenvolvido por meio de uma metodologia didática e participativa.


segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Guardiões e guardiãs de sementes da Paraíba participam de Oficina de Contação de Histórias

Um encontro de gerações recheado de muita emoção, onde os sentimentos mais bonitos dentro de cada participante afloraram. Assim pode ser resumida a Oficina de Contação de Histórias, realizada pelo GT de Comunicação da Articulação do Semiárido Paraibano (ASA Paraíba), no dia 31 de outubro, em Esperança, no Agreste da Paraíba. Participaram do momento cerca de 20 guardiões e guardiãs de Sementes da Paixão, como ficaram conhecidas na Paraíba as sementes crioulas, cultivadas e preservadas pelas famílias agricultoras há várias gerações.


A oficina foi facilitada por Verônica Pragana, comunicadora da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), Rejane Alves assessora pedagógica da ASA Paraíba e Maria Amélia Silva, educadora do Serviço Pastoral do Migrante (SPM). A proposta da oficina foi, à luz da chamada “Pedagogia Griô”, buscando uma conexão com suas ancestralidades e suas identidades, criando um ambiente que propiciasse vivenciar histórias de amor e de paixão pelas sementes, fazendo com que as pessoas olhassem para as suas próprias histórias com mais generosidade.

A atividade foi uma preparação para a 7ª Festa das Sementes da Paixão, que acontecerá entre os dias 5 e 7 de outubro de 2017, em Boqueirão-PB e tem como tema: “Fortalecendo a Resistência e Celebrando a Vida no Semiárido”. As histórias foram registradas em vídeos e, com a permissão dos participantes, serão divulgadas pelos canais de comunicação da Articulação do Semiárido na internet.

No início, em círculo, foi pedido a cada participante que escolhesse uma pessoa, alguém especial, da sua ancestralidade, a quem pedir a benção para começar o dia. “Quase todos nós temos uma índia ancestral que foi pegada no mato. Vamos buscar essa índia, trazê-la para este momento”, disse Rejane Alves. “Que essa nossa busca não seja a de captura, mas a do reencontro”, complementou Maria Amélia. Ao lembrar das pessoas que contribuíram e de sua própria caminhada até ali, muitos guardiões e guardiãs foram às lágrimas. Dona Maria Isabel do Livramento Rocha dos Santos, do Sítio Pedra Grande, em Solânea-PB, foi uma delas: “Não tive a oportunidade de estudar, minha família era muito humilde. Mas hoje através desse trabalho, com o sindicato, com a minha comunidade, graças a Deus, hoje eu me sinto uma professora”, disse.


Após esse momento inicial, sentadas de maneira confortável e em círculo, as pessoas foram convidadas a fechar os olhos, respirar bem fundo e visitar dentro de si, aquelas histórias mais marcantes sobre as sementes em suas memórias: “As nossas histórias são sementes, quando elas germinam, ou seja, quando saem da nossa boca, elas tem o poder de tocar as outras pessoas e de fazerem elas refletirem sobre as suas próprias vidas. Nós fazemos um convite aqui para que a gente possa agora acessar essas histórias dentro de nós”, convidou Verônica Pragana.

Um dos primeiros a se sentir a vontade para falar foi o guardião mais idoso entre os presentes, Cassimiro Caetano Soares, o seu “Dodó”, de 80 anos, morador do Sítio Monteiro, município de Cacimbas-PB. Ele foi o criador da expressão “Sementes da Paixão”: “A semente é uma coisa que a gente tem paixão. É igual a casar com uma moça, você não casa se não tiver amor por ela. E você só tem paixão por ela porque ela é boa, que veio do seu avô, você conhece e sabe que ela é adaptada”.


Sara Maria Constâncio, do Assentamento São Domingos, município de Cubati, se emociona ao lembrar da paixão que um tio querido, Geraldo, tinha por suas sementes. Tanto que antes de morrer, lhe passou as sementes de gado e de feijão, porque sabia que ela iria cuidar e continuar multiplicando.

“Eu sou guardião da semente da fava orelha de vó. Foi uma história desde criança, meu pai dizia que cada pé de feijão que a gente arrancava, era uma lição que a gente aprendia. Essa semente foi da minha avó, ela estaria com quase 200 anos e já dizia que era da avó dela, imagina quantos anos não tem essa semente?”, se pergunta seu Joaquim Santana, do Sítio Montadas de Baixo, município de Montadas-PB.

A participante mais nova da oficina era Maria Aparecida Barbosa, de 12 anos, do Sítio Piabas, em Aroeiras-PB, mesmo muito nova, a jovem já pensa em levar adiante os ensinamentos em torno das sementes: “minha família sempre guardou sementes. Desde muito pequena eu já ia para o roçado, meu pai fazia o buraco e eu colocava a semente. Hoje trabalho com minha mãe na feira agroecológica e quero quando crescer, passar tudo isso para os meus filhos”, planeja.

Ao final do encontro, cada participante escolheu uma semente e a dedicou a uma pessoa presente, como símbolo do que foi plantado com a oficina.

Pedagogia Griô

Pedagogia Griô é uma pedagogia facilitadora de rituais de vínculo e aprendizagem entre as idades, entre a escola e a comunidade, entre grupos étnico-raciais, saberes ancestrais de tradição oral e as ciências e tecnologias universais. Trabalha por meio de um método de encantamento, vivencial, dialógico e partilhado para a elaboração do conhecimento e de um projeto de comunidade/humanidade que tem como foco a expressão da identidade, o vínculo com a ancestralidade e a celebração da vida, segundo a descrição de Lilian Pacheco, criadora da metodologia.

Governo Temer ameaça chamar de volta o Brasil para o Mapa da Fome

No Semiárido, a sociedade civil e a democracia venceram a fome e a sede, transformando-a numa região produtora de alimentos.


SÉRIE NENHUM DIREITO A MENOS | Há quase 2 anos, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) anunciou em Roma um feito de imensa repercussão social no Brasil: a saída do país do Mapa da Fome. Segundo a ONU, no intervalo de 2002 a 2013, a cada 100 pessoas subalimentadas, 82 delas passaram a acessar alimentos para saciar sua fome. Assim, o percentual de brasileiros e brasileiras em situação de subalimentação foi para menos de 5% da população do país.

Para além dos números, essa situação é bem visível na região semiárida brasileira, que representa 18,2% do território nacional e concentrava, em 2011, 50% das pessoas em situação de miséria mapeadas pelo programa Brasil Sem Miséria do governo Dilma Rousseff. Hoje, muitas famílias da região conjugam num passado não muito distante a expressão passar fome. Um tempo que eles demarcam não pelos anos ou décadas, mas pelas gestões dos governantes à frente do país.



“Antes do governo Lula e Dilma, havia muitos saques no Mercantil [mercado da região]. Era muito difícil conseguir alimento. Tinha que ir pras frentes de serviço em troca de um saco de feijão que nem cozinhava”, conta dona Antônia Valdira Coelho, que vive no assentamento Menino Jesus, situado nos municípios de Chorozinho e Cascavel, na região metropolitana de Fortaleza já na parte semiárida do Ceará. “Antes, era uma raridade comer carne. Hoje, comemos bem. Estamos no céu”, enfatiza ela.

A vizinha de dona Valdira, Maria da Glória Santos da Silva, nem dá cabimento para relembrar o período da fome. A sua boca só anuncia os alimentos produzidos no seu quintal: “Acerola, manga, caju, seriguela, ata, banana, limão, graviola, mexerica, cheiro verde, pimentão, alface, tomate, pimentão”. E ainda tem as criações de porco e galinha. “O que nos salva é que a gente tá podendo plantar mesmo com cinco anos sem chuva, porque se fosse comprar não daria por causa da inflação. A gente está aprendendo a plantar e tirar produção a partir dos conhecimentos que os técnicos do Cetra e do Esplar dão”, diz ela fazendo referência às organizações da sociedade civil que fazem parte da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA).

Seu Expedito Jacobina, da comunidade Água Suja, na zona rural de Jacobina do Piauí, também não dá muito espaço para falar dos tempos tristes da fome. Desde 2013, ele armazena a água de produção da cisterna-calçadão. Nestes últimos três anos, inseridos num período de forte estiagem, ele passou a produzir macaxeira, batata e mamão sem parar. “A manga e a pinha tá florindo”, orgulha-se ele, que também cria ovino, abelha e galinha. A carne para consumo da família, ele não compra. “Quanto mais a gente puder produzir para consumo, a gente já está no lucro. Vai comprar um pacote de arroz... é R$ 6,00. Pra muitas pessoas é complicado”, diz ele que além de trabalhar na roça é funcionário de uma escola pública municipal.


“No início da década de 1980, havia no Semiárido um quadro de fome, de crianças morrendo. No início da década de 1990, [existiam] situações críticas pela não garantia do direito à água. A região passou por uma mudança radical dos anos 2000 pra cá, com a participação ativa da sociedade, organizada na ASA, e com políticas que garantiram direitos. A sociedade civil e a democracia venceram a fome e a sede no Semiárido. Uma região tida como uma região de fome e miséria passou a ser uma região produtora de alimentos em vários territórios. Não podemos retroceder”, assegura Denis Monteiro, secretário executivo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).
Um viés da estratégia de combate à fome construída desde o governo Lula e mantida nas gestões de Dilma foi estimular a produção de alimentos pela população vulnerável que vive na zona rural do país. Segundo o Relatório de Insegurança Alimentar no Mundo, publicado pela FAO em 2014, o fomento à produção agrícola articulado com as políticas de proteção social foram fundamentais para a saída do Brasil do Mapa da Fome. Essa estratégia foi sustentada pela priorização da agenda de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) a partir de 2003 pelos governos federais e por mecanismos de participação da sociedade civil nas políticas públicas que convergiam para esse resultado, como a política de convivência com o Semiárido.

E o que dizer agora desta estratégia diante de um governo que não visa a proteção social da população mais vulnerável e anuncia constantes medidas que ferem direitos já conquistados?

“Nós estamos vivendo, em grande medida, momento de um estado de exceção. Infelizmente, não temos como dizer que temos políticas asseguradas. O governo Temer já demonstrou que ele é capaz de desconstruir direitos mesmo aqueles que estão assegurados na Constituição de 1988. O risco de retrocesso é enorme. Agora, nos últimos anos, não foram criados não só leis, mas também espaços que a sociedade teve oportunidade de participar ativamente para construir estas políticas. O Consea [Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional], um exemplo neste sentido, foi recriado pelo governo Lula e tem um papel importantíssimo na construção de leis promotoras do direito humano à alimentação e na construção de políticas públicas, como por exemplo, as políticas voltadas para o Semiárido. É um espaço que continua vigente. Esperamos que este espaço continue tendo um protagonismo com a participação ativa da sociedade civil na cobrança e na defesa dos direitos e das obrigações do estado”, adverte Denis.

Conselheira do Consea, Elza Braga, diz que para enfrentar a fome é preciso enfrentar a pobreza, que é um quadro dotado de complexidade. “Pra melhorar os indicadores da segurança alimentar tem que ter uma conjugação de ações, não só a água, mas o PAA [Programa de Aquisição de Alimentos], o Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar], a economia solidária, toda política voltada para os assentamentos, educação alimentar, é uma série de medidas além das políticas de aumento de renda – bolsa família e aumento do salário mínimo”, assegura ela que também é professora da Universidade Federal do Ceará.


Segundo a professora, a tática do governo Temer para negar direitos não se concretizará só através da redução de recursos, mas através da alteração na metodologia de algumas políticas para “subtrair o protagonismo e a participação da sociedade civil. Porque fica mais fácil retomar as relações clientelistas que perpassam as relações políticas no Brasil, especialmente, no Nordeste e Norte. É um cenário muito preocupante”, dispara Elza.
O que a conselheira do Consea prevê já acontece no Semiárido quando o governo Temer envia os recursos, que deveriam ser investidos na região, para a Codevasf, o DNOCS, governos estaduais. “[Essa opção] nada mais é do que voltar a ideia de injetar os recursos onde tem os apadrinhados políticos”, diz Alexandre Pires, coordenador executivo da ASA Brasil pelo estado de Pernambuco e coordenador do Centro Sabiá, referindo-se aos R$ 700 milhões direcionados para o DNOCS.
Segundo ele, quando os governos Lula e Dilma decidiram dialogar com a sociedade civil, por meio da ASA, para pensar numa forma participativa de construir o projeto de convivência com o Semiárido, tirou das mãos de vereadores, prefeitos e governadores a barganha política e isso fortaleceu a sociedade civil na participação de construção de um projeto político para o Semiárido.

“O que nós construímos ao longo dos anos, no âmbito da participação da sociedade civil, na construção deste projeto de convivência com o Semiárido, o foco estava na necessidade das famílias e não no interesse político-eleitoral, que compromete a eficiência e a eficácia de qualquer iniciativa de promoção da segurança alimentar e a melhoria de suas condições de vida”, assegura Alexandre.
Para a professora Elza, é lastimável que exista uma ameaça de ruptura do governo Temer com a ASA. “A Articulação fez um trabalho muito bom porque incidiu não só na política da água, mas também de produção de alimentos, de incentivo aos quintais produtivos, às feiras, à agroecologia. A gente sabe que falar de segurança alimentar e nutricional é falar de alimentação saudável. E a ASA fez esse meio de campo de articular essas políticas e incentivar o associativismo, que é fundamental para que as populações vulneráveis tenham políticas que atendam às necessidades das famílias. Construir um país democrático passa, necessariamente, pela afirmação de direitos que as populações têm. E a gente quer um país forte, democrático e soberano.”

ASA Paraíba discute Campanha pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico

O trabalho doméstico e de cuidados é algo que necessita ser tratado enquanto responsabilidades de homens e mulheres, apontando a necessidade de discutir com toda a sociedade sua origem e consequências na vida das mulheres.
Direitos são para mulheres e homens, responsabilidades também!
Qual é o lugar da casa onde você passa a maior parte do seu tempo? 
Como funciona a divisão de tarefas domésticas dentro da sua casa? 
Estas e outras perguntas foram feitas para estimular o debate dentro da reunião da coordenação ampliada da Articulação do Semiárido Paraibano (ASA Paraíba), realizada em Campina Grande-PB. 
Serão realizados lançamentos regionais da campanha e atividades de formação em todos os territórios onde a ASA Paraíba está organizada. 
O lançamento estadual da Campanha pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico está previsto para o dia 21 de setembro, também em Campina Grande.