Antes
de dar início à mesa, Adriana Galvão Freire, da AS-PTA Agricultura Familiar e
Agroecologia e do GT Mulheres e Agroecologia da ASA, deu as boas vindas e
falou sobre o surgimento da Campanha: “Ao fazer parte de uma pesquisa sobre
ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural) e feminismo, a gente percebeu ser
comum a todos os grupos e movimentos, a invisibilidade do trabalho das
mulheres, principalmente no que se diz ao trabalho doméstico, então vimos a
necessidade de se produzir a Campanha, mesmo sabendo do desafio que é mexer em
privilégios”, disse. Foi exibido então a vídeo-animação, que mostra o cotidiano
de uma família camponesa que encontrou os caminhos para a divisão justa do
trabalho doméstico.
A
agricultora e liderança do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Esperança-PB e
do Polo Sindical da Borborema, Marizelda Salviano, deu o seu testemunho
positivo: “Sou sindicalista, tenho três filhos, esposo, e eu sinto que há uma
compreensão na minha família para em momentos como este, em que eu me afasto,
eles estão lá, cuidando. Acho que é o entender dele de dizer ‘ela se sente
feliz fazendo o que ela faz’. É você chegar em casa e sentir essa paz”.
Dando
início à mesa, Chirlene dos Santos Brito do Sintrad-CG apresentou o resultado
da pesquisa “Trabalho, tempo e direitos: um estudo com trabalhadoras
domésticas” realizado em parceria com o Centro de Ação Cultural – Centrac.
Chirlene falou ainda sobre os desafios da sua categoria e da necessidade de
políticas públicas que dêem o suporte necessário às mulheres: “A gente sente a
dificuldade pelas creches não serem mais de tempo integral, isso gerou um
grande problema para nós. Com quem vamos deixar os nossos filhos quando saímos
para cuidar dos filhos do patrão? Se nós já somos remuneradas para cuidar dos
filhos dos outros, como não pagar e dar os direitos para quem for cuidar dos
nossos? A nossa preocupação é de ter essa segurança”, disse.
A
segunda a usar a palavra foi a professora Jussara Costa, da UEPB, ela falou
sobre a dificuldade de ter um país cuja realidade de desigualdade entre homens
e mulheres é estruturante da sociedade e que a divisão sexual do trabalho atual
é pensada para determinar que existam funções determinadas para homens e outras
para mulheres e justamente as atribuídas às mulheres são as mais desvalorizadas
e consideradas como não-trabalho. Elinaide Carvalho, da SEMDH, por sua vez,
falou sobre o desafio de trabalhar na desconstrução e desnaturalização do papel
que foi dado às mulheres na sociedade: o de mães, esposas, castas e
responsáveis pelas tarefas domésticas e que é necessário, cada vez mais, trazer
para essa discussão os homens, para que eles sejam sensibilizados, não só
pelas mulheres.
Glória
Batista encerrou a rodada de falas e aproveitou a oportunidade para denunciar o
corte de 92% do Governo Federal no Programa de Cisternas, que segundo ela,
é uma das políticas mais importantes para a garantia da qualidade de vida e
autonomia das mulheres no campo. “Temos um programa que acaba de ser premiado
como a segunda melhor política pública do mundo no combate à desertificação e
que ao mesmo tempo sofre desse corte brutal. Nós sabemos que por muitos anos o
papel das mulheres na agricultura foi invisibilizado. O mundo do trabalho da
mulher é muito intenso, muito forte, e se a jornada de trabalho fora de casa é
igual, porque o trabalho dentro de casa de homens e mulheres deve ser
diferente? A gente precisa virar esse jogo e essa Campanha é uma enorme
contribuição neste sentido”, finalizou.
Após
a mesa houve uma rodada de debate, à partir das provocações das debatedoras.
Maria Suelma Tavares, é conselheira tutelar do município de Massaranduba-PB há
um ano e nove meses, ela compartilhou um pouco da sua percepção na lida diária:
“Dentro da atuação no Conselho, a gente vê muito claro a omissão dos homens com
relação aos cuidados com os filhos”, avaliou.
Intervenção
de rua
Na
parte da tarde, aconteceu na Praça da Bandeira, no Centro de Campina Grande,
uma intervenção artística de rua, com ciranda, apresentação teatral, falas
públicas e testemunhos. O Grupo de Teatro Amador do Polo da Borborema usou a
arte em uma encenação que mostrou a história de Rita e Antônio, um casal que
por meio do diálogo, conseguiu dividir as tarefas dentro de casa.
A
agricultora Maria de Fátima Silva Santos, de 57 anos, do Sítio Pedra D’água em
Juazeirinho-PB, falou sobre a sua experiência de vida: “Eu já nasci
trabalhando. Na minha casa eram nove homens e duas mulheres. Minha mãe tirava o
leita da vaca e eu ia preparar o café pra uns 20 trabalhadores e de oito horas
da manhã, ai de mim, se não estivesse no roçado. Quando casei, foi a mesma
coisa. Mas eu cansei, que vida era aquela, só de trabalhar? Eu já adulta,
voltei a estudar, coisa que meu pai não me permitia fazer. Hoje não dependo do
meu marido ele que depende de mim”.
A
campanha surgiu como resultado do processo de construção coletiva da Pesquisa
Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), Feminismo e Agroecologia,
desenvolvido entre os anos de 2014 a 2017, que reuniu uma diversidade de
mulheres de todos os estados do Nordeste. Como um dos frutos dessa pesquisa,
surgiu a Rede Feminismo e Agroecologia.
http://centrac.org.br/2017/09/22/com-mesa-de-dialogo-e-teatro-paraiba-lanca-campanha-pela-divisao-justa-do-trabalho-domestico/
http://centrac.org.br/2017/09/22/com-mesa-de-dialogo-e-teatro-paraiba-lanca-campanha-pela-divisao-justa-do-trabalho-domestico/
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