PESQUISAR

domingo, 15 de abril de 2018

Caravana das Águas e da Agroecologia é iniciada com debates e visita a obra da Transposição em Monteiro-PB


Com uma mística de abertura que trouxe a memória de grandes mártires das lutas populares como João Pedro Teixeira, Margarida Maria Alves, Dorothy Stang e Marielle Franco, foi aberta, neste dia 10 de abril e segue até o dia 12, a Caravana das Águas e da Agroecologia. O evento é uma realização da Articulação do Semiárido Paraibano – ASA Paraíba e um conjunto de movimentos do campo parceiros, cujo objetivo é refletir sobre as políticas públicas de acesso à água na Paraíba, tendo como foco a Transposição do Rio São Francisco, além de compreender os impactos da obra para as populações locais e construir estratégias de ação na perspectiva do acesso à água como direito e bem comum.


No momento da mística inicial, foi feita ainda uma homenagem ao Irmão Urbano Dodelein. Integrante da Congregação Redentorista, de origem holandesa, Irmão Urbano teve toda uma vida dedicada ao desenvolvimento e ao aprimoramento de tecnologias de convivência com o semiárido. Atualmente ele tem 92 anos e reside em Campina Grande. “Não fossem os seus problemas de saúde, com toda certeza, esse seria um evento em que o irmão Urbano faria questão de estar presente, pois ele sempre foi uma pessoa que valorizava muito o conhecimento das famílias agricultoras e seu potencial para criar soluções para os seus problemas”, disse Antônio Carlos Pires de Melo, da organização Patac, que o religioso ajudou a fundar.

Houve então a apresentação da programação em uma rápida mesa de abertura com representantes da Rede Água da ASA Paraíba e do Centro de Desenvolvimento do Semiárido – CDSA, Campus Sumé-PB da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, local que acolhe a caravana e é parceiro na sua realização. Em seguida, teve início o painel “A crise hídrica no Brasil”, facilitado por Luciano Silveira, da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, uma das organizações da ASA.


Luciano iniciou fazendo uma contextualização da crise hídrica no país, afirmando que ela não é um fenômeno novo, mas que deixou de ser uma exclusividade da região semiárida, se referindo aos colapsos enfrentados por grandes centros como São Paulo, Brasília, Fortaleza e Vitória. Falou ainda sobre a influência do nosso modelo de desenvolvimento sobre os biomas brasileiros e sobre o clima, até chegar na situação do Rio São Francisco: “94% das águas que nutrem o São Francisco vem do Cerrado Brasileiro, considerado ‘o berço das águas’, uma vegetação que está completamente ameaçada, o que tem gerado uma ruptura dos ciclos da água. A tendência é de agravamento dessa situação, principalmente depois do novo código florestal, que anistiou empresas responsáveis pelo desmatamento”.

No período da tarde, um segundo painel tratou sobre o tema: “Panorama dos usos e conflitos por água a partir da transposição do rio São Francisco na bacia do rio Paraíba”, facilitado pelo professor doutor Paulo Diniz do CDSA. Paulo Diniz é sociólogo e se dedica atualmente a pesquisar a relação entre a obra e as pessoas. Estudando o Projeto de Integração das Bacias do São Francisco – PISF, ressaltou a questão da segurança hídrica que o projeto traz, inclusive expressamente se referindo às populações mais vulneráveis, para que fossem protegidas.

O professor tratou ainda dos principais problemas que o projeto enfrenta, justamente pela obra ter sido acelerada na Paraíba para evitar o colapso hídrico da cidade de Campina Grande. Segundo o professor, o que fez com que a segurança da obra e os cuidados com os danos ambientais fossem menos observados. 


No final da tarde, todo o grupo de cerca de 100 participantes, foram até a cidade vizinha de Monteiro-PB conhecer o canal da Transposição, inaugurado em 2017. Lá conversaram com o agricultor e presidente da Associação Comunitária do Sítio Mulungu, Cícero Quintans. Ele falou sobre como a comunidade vê a obra: “Era um sonho para todos nós, mas na realidade, para a comunidade, ainda não teve nenhum benefício. Para ser sincero, o único é o abastecimento de carro pipa, que eles estão colocando. Algumas pessoas tinham poço na região, em torno de 40, tinham plantio e perderam, muitos perderam também a morada, conseguiram uma casa na Vila Lafaiete, quem está lá ainda ficou um pouco melhor, uma morada melhor, mas quem ficou morando do lado do canal, está tendo muitos problemas com as passagens, com detonações. Mas estamos vendo aí a água e temos esperança de que a gente vá ter água nas nossas torneiras, como prometeram”.


O evento faz parte do processo preparatório da Paraíba para o IV Encontro Nacional de Agroecologia (ENA) que acontecerá em Bolo Horizonte, de 31 de maio a 3 de junho de 2018. Os movimentos sociais Pastoral da Juventude Rural – PJR, Movimento dos Atingidos por Barragem – MAB e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST são parceiros da ASA na realização da Caravana.

Nenhum comentário: