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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

O TRABALHO DAS MULHERES NO SEMIÁRIDO: UM EXEMPLO DE FORÇA E RESISTÊNCIA

“É bom trabalhar no roçado porque a gente vê fartura dentro de casa”. 

Essas são as palavras que a senhora Severina Matias Souza Nascimento (56) usa para descrever sua forma de conviver com o semiárido. Com sua trajetória de lutas, Dona Bira, como é conhecida, tem uma bela história de vida para contar. Filha de agricultores fazia parte de uma família grande de 10 irmãos, morando em uma casa pequena, sem terra para poder trabalhar, o que obrigava seus pais a trabalhar em terras de outras pessoas para poder dar de comer aos filhos. Dona Bira e seus irmãos não podiam estudar, pois precisavam, desde cedo, ajudar no sustento da família e nos trabalhos domésticos.  Após alguns anos da morte do pai, Francisco José Olímpio de Souza, dona Bira casou-se com José Roberto do Nascimento, e continuou enfrentando as dificuldades da vida para ajudar sua mãe, Dona Maria Matias, que ficou viúva com seis filhos menores de idade, e o trabalho só aumentando. Nesse período, no entanto, pode contar com a ajuda de seu esposo, que passou a enfrentar as lutas da casa, o que a fez sentir-se mais aliviada. Suas maiores conquistas são seus quatro filhos: Maria do Céu, Robélia, Robério e Rogério. Mas, como se fosse uma triste repetição do passado, ainda com os filhos pequenos, Dona Bira também ficou viúva, tendo que se virar para lutar ainda mais pelo sustento de sua família. Através da produção, principalmente, de milho e feijão, a família já havia conquistado sua casa própria em uma terra de dois hectares e como nunca esperaram as coisas caírem do céu, foi dessa terra que Dona Bira, sua mãe e sua irmã Josineide lutaram pelo sustento da família. Como o trabalho no roçado era mais pesado, continuaram a desenvolver a agricultura familiar nos arredores da casa, na comunidade Pedra D'água, localizada no município de Caturité, no cariri paraibano. 

Dona de muita garra e determinação, dona Bira não desanimou diante as dificuldades e ingressou no grupo de agricultores experimentadores, no ano de 2013. E foi através do grupo que passou a explorar e valorizar ainda mais seu arredor de casa cultivando suas hortaliças e o plantio de frutíferas, inicialmente para o consumo, mas foi daí que viu na agricultura uma forma de geração de renda para sua família. Passou a ter condições de comercializar o excedente como, pinha, ovos, pimentão, alface, coentro, etc; na Tenda Agroecológica do Cariri, que funciona em Boqueirão/PB.  Atualmente, dona Bira tem um quintal bastante diversificado que produz coentro, cebolinha, alface, pimentão, além de frutíferas como laranja, mamão, acerola, pinha, goiaba, limão e caju. É com um sentimento de imensa alegria que dona Bira conta que suas galinhas, além de serem fonte de renda, servem como alimento saudável para sua família. 


Dona Bira, sentindo-se realizada, ao relembrar que foi através dessa nova renda que viu a possibilidade de aumentar sua casa, pois foi juntando pouco a pouco o lucro da criação das galinhas, dos porcos, milho, feijão, entre outros, que conseguiu reformar a sua casa.  
A continuidade dessas conquistas só foi possível graças à chegada dos Programas de captação de água de chuva na propriedade de Dona Bira. Diz ela, com alegria: “hoje as cisternas são uma benção para não perder a água”, referindo-se à água das cisternas de beber e cisternas para produção que conseguiu conquistar através do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) e o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2). Já sua mãe relembra outros tempos em que para conseguir água sem tratamento adequado andava muito distante: “muitos dias saí de madrugada, enchi a lata, quando voltei já era de manhã”, relata dona Maria.
Apesar de tantas conquistas, continua a buscar outras melhorias, “Ainda quero um manejo da água, gotejamento, no verão vai ser muito bom, quero a água da cisterna para vir para a horta,” explica dona Bira.  Com um sorriso estampado no rosto de toda família é nítida a felicidade que sentem em viver e trabalhar na própria terra, deixando claro que é possível viver dignamente no semiárido. Dona Bira lembra que a luta continua e que entre os sonhos ainda deseja “ver todo mundo se mover, se organizar e trabalhar para comer bem, pegar uma enxada e plantar para que todos tenham comida boa”.

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