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terça-feira, 27 de março de 2012

Conjuntura da Semana.


A questão ambiental está no cerne da tensão entre os movimentos sociais e os governos progressistas na América Latina


A esquerda latino-americana no poder continua presa a um modelo reduzido a lógica produtivista, onde o importante é o desenvolvimento das forças produtivas e o crescimento da economia. Essa concepção de matriz marxista aproxima-se do liberalismo, que também quer o desenvolvimento das forças produtivas. Distanciam-se apenas no instrumento de alavancagem do capital, para os primeiros esse papel cabe ao Estado; para os segundos, ao mercado. Nessa lógica a agenda ambiental não tem vez, porque é considerada um freio ao desenvolvimento das forças produtivas.

Com maior ou menor intensidade em todo continente latino-americano movimentos indígenas, camponeses e organizações socioambientais estão se posicionando e se mobilizando contra a execução de megaprojetos - rodovias, hidrelétricas, expansão do agronegócio, mineração, petróleo - que se abrigam sob o modelo (neo)desenvolvimentista. Hoje no cerne da tensão entre os movimentos sociais e os governos progressistas na América Latina encontra-se a agenda ambiental.

A análise da conjuntura da semana é uma (re)leitura das "Notícias do Dia’ publicadas diariamente no sítio do IHU. A análise é elaborada, em fina sintonia com o Instituto Humanitas Unisinos – IHU, pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT, com sede em Curitiba-PR, parceiro estratégico do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, e por Cesar Sanson, professor na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, parceiro do IHU na elaboração das Notícias do Dia.

Leia a análise completa, aqui
Fonte: Instituto Humanas Unisinus

quinta-feira, 22 de março de 2012

O AMIGO EM CASA


Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS

Você convida um amigo muito querido à sua casa. Leva-o logo para a cozinha, lugar mais familiar e onde a conversa costuma ser mais próxima. Enquanto a sala de estar é lugar de visitas solenes, ilustres e formais, a cozinha é espaço de intimidade. Ali a conversa é franca, aberta, transparente. Os enfeites e atributos da sala muitas vezes escondem segredos. Já a cozinha se presta em geral à nudez da amizade sincera, sem fingimentos. Na primeira é comum ocultar o lixo debaixo do tapete, na segunda sequer há tapete. Tudo ocorre no corpo a corpo, cara a cara, olho no olho.

Mas pode haver um desencontro, uma espécie de um curto-circuito entre você e o amigo convidado. Você o instala na cozinha e põe-se a brincar com o gatinho, o papagaio ou o cachorrinho da casa. Pior ainda, liga a televisão ou o rádio, esquecendo de desligar o celular. Este timbra e você atende normalmente, falando em voz alta, sem dar a mínima para o amigo que está ao lado. Ou ainda, começa a folhear o jornal, uma revista ou um livro. Apesar de juntos, ambos parecem em órbitas diferentes.

A metáfora serve para esclarecer o que ocorre, não poucas vezes, na oração pessoal ou mental. Convidamos Jesus Cristo para um bate-papo, um encontro profundo. Levamo-Lo até o lugar mais íntimo de nosso ser. Chegados ali, ao invés de conceder-Lhe uma atenção especial e única, eis-nos distraídos com mil preocupações que tumultuam nosso espírito e nosso coração. Deixamo-Lo de lado e passamos a navegar indistintamente de um tema a outro.

Com muita freqüência, esquecemos a presença do Amigo, e nos entretemos com culpas e mágoas, ciúmes e invejas, rancores e vinganças, acariciando-as morbidamente como se fossem bichinhos de estimação. Outras vezes, ligamos o filme de nossa trajetória retrospectiva, e as imagens vão se sobrepondo umas às outras, sem que ao menos lhe prestemos uma atenção mais viva e séria. Pode ser também que toque o telefone das preocupações imediatas, dos desafios que nos esperam. Passamos logo a antecipar as respostas e soluções, sem uma avaliação mais acurada do que temos de fazer. Ou ainda, nossa atenção põe-se a captar, implícita ou explicitamente, as novidades que chegam de todos os lados, como o beija-flor que rouba o mel de todas sem enamorar-se concretamente de nenhuma.

Paciente e silencioso, o Amigo aguarda. Ouve, sorri, perdoa e ama. Ama mas deixa-nos inteiramente livres. Não se atém ciosamente a uma relação doentia e possessiva. Não pode fazer outra coisa senão pousar seu olhar fixo e misterioso sobre o nosso. Olhar que é um oceano límpido, cristalino e transparente de amor e misericórdia. Espera que o brilho desse olhar, por sua profundidade e intensidade, nos fascine e nos chame novamente ao encontro. Espera que sua luz penetre em nossa alma e nos seduza pela doçura e compaixão.
Mas quase sempre os ruídos, internos e externos, são mais fortes que a presença silenciosa e atenta do Amigo. Imagens, sons, lembranças e palavras vão se sucedendo, atropelando-se umas às outras. Tumultos e turbulências, temores e tremores substituem o silêncio necessário para retomar o diálogo com o Amigo. No rosto Dele, pouco a pouco, vai se extinguindo o brilho da luz. Uma sombra de tristeza toma desce e toma o lugar do olhar amoroso. O sorriso de infinita bondade parece murchar como uma flor esquecida.
Sem nos darmos conta, na agitação do momento, o Amigo parte tão discreto e silencioso como chegara. Ficam adiadas, mais uma vez, a serenidade e a paz que ansiosamente buscávamos encontrar. As palavras (no plural) ocultaram a presença viva da Palavra (no singular). O Verbo se fez carne, armou sua tenda entre nós, mas as trevas não o acolheram! O Amigo, porém, insiste: “Já estou chegando e batendo à porta; quem ouvir minha voz e abrir a porta, eu entro em sua casa e janto com ele, e ele comigo”(Ap 3, 20).

Hoje é dia o dia mundial da água


Instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 22 de março de 1992 o dia Mundial da Água para que as pessoas do mundo inteiro refletissem sobre os diversos temas relacionados a este fundamental direito humano. Nós do SPM NE gostaríamos de reafirmar nosso compromisso com o povo do Semiárido paraibano na luta pela formulação de políticas públicas e ações concretas de acesso aos recursos hídricos sem restrição e com total autonomia.

Como já falamos anteriormente hoje é um dia comemorativo, mas em 2012 nossas reflexões sobre a água não começaram agora, pois de 14 a 17 deste mês Arivaldo Sezyshta (Presidente SPM NE) esteve em Marselha – França representando o SPM e a Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) no Fórum Alternativo Mundial da Água que teve por objetivo: “elaborar e promover um discurso alternativo em favor de uma gestão ecológica e democrática da água, discutir sobre as soluções a crise mundial da água, além de estruturar uma rede de articulação em prol do movimento”.

Segundo Arivaldo Sezyshta uma das questões fundamentais vistas no Fórum e que devem ser trazidas para reflexão na Semana da Água é que a água é vida e não pode ser vendida: “O principal é reforçarmos o grito mundial pela água como bem público, fortalecer o esforço mundial de reapropriação da água, enquanto bem comum da humanidade, pois em muitos lugares ela foi privatizada, possuída, cercada, e está sob o poderio de uns poucos”. Ação já implementada pelo SPM desde 1994 com o trabalho de construção de cisternas para captação de água da chuva para abastecimento humano.

Convivência com o semiárido – o senso comum sempre nos disse que o “problema do sertão é a seca”, mas ao longo da história a sociedade civil organizada tem provado que o real problema é a “cerca” que privatiza o acesso da população aos recursos hídricos. E na contramão desse processo de exploração o SPM é, em articulação com a ASA, uma Unidade Gestora Microrregional do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), desde 2008 o SPM já construiu aproximadamente 3000 mil cisternas para captação água da chuva para consumo humano beneficiando milhares de famílias paraibanas com o bem mais precioso da vida que é o acesso livre a água.

Neste dia Mundial da Água queremos ressaltar o artigo 2º da Declaração Universal dos Direitos da Água: “... à água é um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à vida, tal qual é estipulado do Art. 3 º da Declaração dos Direitos do Homem”. E que nosso trabalho vai estar sempre pautado pela luta na garantia desse direito.
  
Leia mais:
Carta do Fórum Alternativo da Água, clique aqui.
Declaração Universal dos Direitos da Água, cliqueaqui.

segunda-feira, 19 de março de 2012

SPM NE é tema de trabalho acadêmico


"INVESTIR NA AGROECOLOGIA É GARANTIR O FUTURO DE MEUS FILHOS E DOS MEUS NETOS" 
(Iolanda - Capim de Cheiro)

A citação acima foi a frase ou ensinamento apontado por Maria Amélia da Silva Técnica Ambiental (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Paraíba - IFPB) que estagiou no projeto de Educação Ambiental e Recuperação de Áreas Degradas "Preservar e Produzir" e este período de aprendizado no SPM NE tornou-se tema de seu trabalho de conclusão de curso.
Acompanhem abaixo a conversa que tivemos Amélia da Silva sobre sua participação no projeto, seu trabalho de conclusão de curso e seus aprendizados no SPM NE. 


SPM NE : Qual o tema de trabalho? Fale um pouco sobre ele.
Amélia da Silva: O título é: REFLORESTAMENTO DO BIOMA MATA ATLÂNTICA NO LITORAL SUL PARAIBANO. O trabalho faz um breve histórico às atuais condições ambientais da Mata Atlântica no território brasileiro, inclusive na Paraíba e sobre as atividades realizadas pelo Projeto Preservar e Produzir em Assentamentos Rurais dos municípios de Pitimbu e Caaporã/PB, através do desenvolvimento da Educação Ambiental, com a implantação de Sistemas Agroflorestais – SAF’s, cultivo de horta orgânica, distribuição de mudas e seminários técnicos com jovens e docentes da rede pública municipal. Tendo como objetivo principal recuperar as áreas desmatadas da região e garantir a sustentabilidade sócio-econômica e ambiental a partir de práticas agroecológicas e tecnologias alternativas.

SPM NE: Qual a motivação para trabalhar no projeto? E como foi a tua chegada no projeto?
Amélia da Silva: Surgiu a partir da área de atuação do Preservar e Produzir:  recuperação de áreas degradadas através da Educação Ambiental e da implantação de práticas agroecológicas em comunidades de agricultores familiares, uma vez que é a minha área de interesse profissional, como também por se tratar de ações com um grupo social semelhante a minha origem.
Como faço parte de uma comunidade rural assistida pelo SPM NE, desde 2001, há uma ótima relação estabelecida com a instituição, e como sabia da existência do projeto solicitei a coordenação uma oportunidade de estágio, uma vez que área de atuação do projeto correspondia fortemente com a minha área de formação técnica, o Meio Ambiente. A solicitação foi atendida na mesma hora.

SPM NE: Qual foi a reação da comunidade acadêmica (teus professores e amigos) ao entrar no projeto?
Amélia da Silva: Foi de completa surpresa, pois há uma tendência dos alunos do curso Técnico em Meio Ambiente buscarem estágio no Mercado formal de trabalho, ou seja, em empresas, indústrias, até mesmo porque o próprio Instituto mantém convênios quase só com essas empresas, pois a única ONG conveniada ao IFPB, até agora, é o SPM NE, sendo este ocorrido por meio do estágio realizado. Com isso o trabalho tornou-se um diferencial dentro da instituição quando comparado aos demais, uma vez que foi além do núcleo urbano e dos estabelecimentos privados, além do grupo social beneficiado, que geralmente não interessa a maioria estudantes.

SPM NE: E por qual motivo você escolheu estagiar numa ONG?
Amélia da Silva: Primeiro porque pela hierarquia do mercado formal, a do “eu mando, você obedece”, onde os conhecimentos técnicos do estagiário não interessa a empresa, Segundo, devido ao fato de que as questões ambientais dentro de uma empresa geralmente só existe na teoria (no papel), na prática elas não se aplicam, o que foi comprovado em recente pesquisa realizada em Cabedelo-PB por meio do IFPB em parceria com CNPq, da qual eu fiz parte, onde todas as empresas entrevistadas tem licenciamento ambiental, mas a maioria não atendem as exigências básicas para obtenção do mesmo. E por último, os estagiários destas empresas em geral, desempenham funções que não correspondem a sua área de formação, ou seja, lhe atribuem qualquer função menos ao setor ambiental do empreendimento.

SPM NE: Quais os aprendizados adquiridos?
Amélia da Silva: São vários: Conhecimento mais profundo das espécies nativas da região, e do cultivo e manejos adequados a implantação dos SAF’s, sua complexidade e a importância do uso dessa tecnologia para a recuperação da Mata Atlântica de modo que não comprometa a sustentabilidade econômica dos agricultores familiares; ampliação dos conhecimentos relacionados a agroecologia; a importância do trabalho em equipe, de maneira justa, organizada e solidária, para garantir o bom desenvolvimento da ações propostas; o respeito a cultura e costumes dos grupos de interesse entre outros, entre outros.

SPM NE: Quais eram as tuas responsabilidades no Preservar e Produzir?
Amélia da Silva: Acompanhar e assistir todas as atividades do projeto, dando ênfase a implantação SAF’s. Incluindo: Assistência técnica aos agricultores; planejamento e execução dos SAF’s junto a equipe técnica,  acompanhar e assistir os seminários técnicos  e as atividades da horta orgânica, realizar o cadastramento dos beneficiários para a distribuição de mudas e elaborar relatório das ações desenvolvidas.

 SPM NE: Em sua avaliação quais eram os pontos positivos e negativos do projeto?
Amélia da Silva: Positivos: Discute os aspectos ambientais da região considerando os aspectos sociais, culturais e econômicos; Estimula a conscientização ambiental por adesão voluntária; Considera os conhecimentos populares; Utiliza uma metodologia do “com”, onde todas as ações são planejadas e discutidas com os beneficiários do projeto, viabilizando sua aceitação; busca e cria tecnologias alternativas para a sustentabilidade das atividades agrícolas.
Negativos: Equipe técnica reduzida, inviabilizando o monitoramento e manutenção contínuo das áreas reflorestadas; e a sua insustentabilidade financeira, que ocasiona longos períodos de cessão das atividades do projeto e até mesmo a sua continuidade.

SPM NE: Você acha que o trabalho do SPM NE no litoral sul tem contribuído para diminuir os motivos da migração forçada?
Amélia da Silva: Eu acredito que sim, pois a partir do momento que se desenvolve ações que buscam melhorar as condições de vida no campo, como as atividades do Preservar e Produzir, evita-se esse tipo de migração, o que pode ser observado nos depoimentos dos próprios moradores da região, que apesar das dificuldades que ainda existem no que se refere as atividades agrícolas não cogitam a idéia deixar a região.

SPM NE: Após esta apresentação e conclusão do curso quais serão os próximos passos profissionais?
Amélia da Silva: A conclusão da Graduação em Ecologia e ir em busca de trabalho, gostaria muito de continuar no projeto, mas a distância da cidade onde estudo (Rio Tinto) para a área de atuação do projeto não permite. Mas pretendo levar a experiência para outras regiões do estado, pois acredito que o desenvolvimento desse tipo de ação possibilita a sustentabilidade sócio-econômica e ambiental no campo.

PALAVRA FINAL: Leia o relatório completo, aqui.

Mudanças Ambientais e Migrações


quinta-feira, 8 de março de 2012

Cinco esclarecimentos sobre agrotóxicos, alimentos orgânicos e agroecológicos





Por Campanha Permanente contra o uso de Agrotóxicos e pela Vida*
Na primeira semana de 2012, veículos da mídia de grande circulação divulgaram informações parciais e incorretas sobre o uso de pesticidas nos alimentos.
Nós, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, contestamos essas informações e, com base no conhecimento de diversos cientistas, agrônomos, produtores e distribuidores de alimentos orgânicos, aproveitamos essa oportunidade para dialogar com a sociedade e apresentar nossos argumentos a favor dos alimentos sem venenos.


1. O nome correto é agrotóxico ou pesticida e não “defensivo agrícola"

Como afirma a engenheira agrônoma Flávia Londres: “A própria legislação sobre a matéria refere-se aos produtos como agrotóxicos.” E o engenheiro agrônomo Eduardo Ribas Amaral complementa: “Mundialmente o termo utilizado é ‘pesticida’. Não conheço outro país que adote o termo ‘defensivo agrícola”.

2. O nível de resíduos químicos contido nos alimentos comercializados no Brasil é muito preocupante e requer providências imediatas devido aos sérios impactos que gera na saúde da população

Voltamos a palavra à engenheira agrônoma Flavia Londres: “A revista se propõe a tranquilizar a população, certamente alarmada pelo conhecimento dos níveis de contaminação da comida que põe à mesa. Os entrevistados na matéria são conhecidos defensores dos venenos agrícolas, alguns dos quais com atuação direta junto a indústrias do ramo. Os limites ‘aceitáveis’ no Brasil são em geral superiores àqueles permitidos na Europa – isso pra não dizer que aqui ainda se usam produtos já proibidos em quase todo o mundo”.

O engenheiro agrônomo Eduardo Ribas Amaral nos traz outra informação igualmente importante: “A matéria induz o leitor a acreditar que não há uso indiscriminado de agrotóxicos no país, quando a realidade é de um grande descontrole na aplicação desses produtos, fato indicado pelo censo do IBGE de 2006 e normalmente constatado a campo por técnicos da extensão rural e por fiscais responsáveis pelo controle do comércio de agrotóxicos”.

3. Agrotóxicos fazem muito mal à saúde e há estudos científicos importantes que demonstram esse fato

Com a palavra a Profª Dra. Raquel Rigotto, da faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará: “No Brasil, há mais de mil produtos comerciais de agrotóxicos diferentes, que são elaborados a partir de 450 ingredientes ativos, aproximadamente. Os agrotóxicos têm dois grandes grupos de impactos sobre a saúde. O primeiro é o das intoxicações agudas, aquelas que acontecem logo após a exposição ao agrotóxico, de período curto, mas de concentração elevada. O segundo grande grupo de impactos dos agrotóxicos sobre a saúde é o dos chamados efeitos crônicos, que são muito ampliados. Temos o que se chama de interferentes endócrinos, que é o fato de alguns agrotóxicos conseguirem se comportar como se fossem o hormônio feminino ou masculino dentro do nosso corpo; enganam os receptores das células para que aceitem uma mensagem deles. Com isso, se desencadeia uma série de alterações – inclusive má formação congênita; e hoje está provado que pode ter a ver com esses interferentes endócrinos. Pode ter a ver com os cânceres de tireóide, pois implica no metabolismo. E cada vez temos visto mais câncer de tireóide em jovens. Pode ter a ver com câncer de mama. E também leucemias, nos linfomas. Tem alguns agrotóxicos que já são comprovadamente carcinogênicos.Também existem problemas hepáticos relacionados aos agrotóxicos. A maioria deles é metabolizada no fígado, que é como o laboratório químico do nosso corpo. E há também um grupo importante de alterações neurocomportamentais relacionadas aos agrotóxicos, que vão desde a hiperatividade em crianças até o suicídio.”

De acordo com o relatório final aprovado na subcomissão da Câmara dos Deputados que analisa o impacto dos agrotóxicos no país (criada no âmbito da Comissão de Seguridade Social e Saúde), há realmente uma “forte correlação” entre o aumento da incidência de câncer e o uso desses produtos. O trabalho aponta situações reais observadas em cidades brasileiras. Em Unaí (MG), por exemplo, cidade com alta concentração do agronegócio, há ocorrências de 1.260 novos casos da doença por ano para cada 100 mil habitantes, quando a incidência média mundial encontra-se em 600 casos por 100 mil habitantes no mesmo período. Como afirma o relator, deputado Padre João (PT-MG), “Diversos estudos científicos indicam estreita associação entre a exposição a agrotóxicos e o surgimento de diferentes tipos de tumores malignos. Eu concluo o relatório não tendo dúvida nenhuma do nexo causal do agrotóxico com uma série de doenças, inclusive o câncer”, suste nta. Fonte: Globo Rural On-line, 30/11/2011.

4. Não é possível eliminar os agrotóxicos lavando ou descascando os alimentos já que eles se infiltram no interior da planta e na polpa dos alimentos

A única maneira de ficar livre dos agrotóxicos é consumir alimentos orgânicos e agroecológicos. Não adianta lavar os alimentos contaminados com agrotóxicos com água e sabão ou mergulhá-los em solução de água sanitária ou, mesmo, cozinhá-los. Os resíduos do veneno continuarão presentes e serão ingeridos durante as refeições. Além disso é importante lembrar que o uso exagerado de agrotóxicos também faz com que estes resíduos estejam presentes nos alimentos já industrializados, portanto, a melhor forma de não consumir alimentos contaminados com agrotóxicos, é eliminar a sua utilização

5.Os orgânicos não apresentam riscos maiores de intoxicação por bactérias, como a salmonela e a Escherichia coli

Segundo a engenheira agrônoma Flávia Londres: “Ao contrário dos resíduos de agrotóxicos, esses patógenos– que também ocorrem nos alimentos produzidos com agrotóxicos – podem ser eliminados com a velha e boa lavagem ou com o simples cozimento”.
A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida recomenda o documentário “O Veneno está na Mesa” (veja abaixo), de Silvio Tendler, totalmente disponível no site da campanha (www.contraosagrotoxicos.orgwww.contraosagrotoxicos.org) bem como todos os materiais disponíveis na página.

Participe você também nos diferentes comitês da campanha organizados nos diversos estados do Brasil, para maiores contatos envie e-mail para contraosagrotoxicos@gmail.com Este endereço de e-mail está sendo protegido de spam, você precisa de Javascript habilitado para vê-lo


Publicado orginalmente em: www.contraosagrotoxicos.org

MULHER, MÃE E TRABALHADORA A LINGUAGEM DE AMOR


Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS [www.provinciasaopaulo.com]

De retorno a São Paulo, ao meu lado no ônibus viajava uma senhora ainda jovem com duas crianças: uma filhinha de alguns anos e um bebê de alguns meses. Logo surgiu um pequeno impasse. Dois ou três passageiros resmungaram sobre a luz acesa nas poltronas ocupadas pela mãe e filhos. Era evidente, porém, que ela não apagava a lâmpada individual para evitar o choro da criança de colo. Tinha perfeita consciência que seu bebê temia o escuro e devia esperar que ele dormisse.

Enquanto isso, a jovem mãe oferecia o peito e “falava” com o bebê. Falava entre aspas, porque se tratava de um monólogo de palavras e frases entrecortadas, um murmúrio de sons e afagos, incompreensível e ao mesmo tempo cheio de significado; um sussurro inarticulado de mimimi-mumumu, como diria um comentarista esportivo; a magia da água que, mansa e borbulhante, brota da fonte. Fonte cristalina e transparente, onde tudo é límpido e refrescante.

Num relance, pude observar os dois rostos praticamente colados um ao outro. O nariz da mãe entrecruzava-se com o do filho, num jogo de comunicação bem conhecido de quem costuma lidar com a infância. Mais expressivo ainda era o olhar dela fascinado pelos olhinhos da criança, abertos e fixos naquele rosto familiar e amado. Podia-se adivinhar o esboço de um sorriso divino de ambos os lados, num enternecimento inexprimível. A imagem transbordava de ternura e afeto.

Neste caso, pouco ou nada importavam a lógica e o sentido das palavras. O amor, a dedicação e o carinho expressavam-se, antes, pela entonação da voz, pelo calor do corpo, pelos braços acolhedores, pelo balanço ritmado dos embalos, pela profusão de carícias e beijos. A linguagem do amor, na expressão animal e humana, não é construída com um edifício de palavras, frases, discursos, e sim com balbucios, gestos, olhares, sorrisos, toques, canções, presença... É a arte daquela que, além de carregar a sua “cria” por nove meses no aconchego de seu ventre e amamentá-la depois de nascida, ensina-lhe em seguida as primeiras palavras, as primeiras preces e os primeiros passos. Aquela que, no berço e na casa, vela pela vida que cresce e amadurece: primeira a levantar-se, última a deitar-se.

Semelhante cena, tão simples e singela, levou-me às palavras do salmo: “eu fiz calar e repousar a minha alma, como uma criança recém-amamentada no colo da mãe” (Sl 131,2). Tanto a linguagem do amor quanto a linguagem da oração não são feitas como narrativas articuladas, gramaticamente corretas em seus conceitos e argumentações. Ao contrário, ela constitui uma mistura de sons e silêncios, comunicação de fala e escuta, onde prevalece uma tonalidade de voz que é única e irrepetível em cada pessoa e em cada relação.

A razão, com sua lucidez fria e cortante, apaga muitas vezes o encanto de uma relação amorosa, quer em termos espirituais quer em termos afetivos. Aqui a alma, o coração e o corpo falam mais alto, mesmo sem nada dizer de inteligível ou traduzível. Isso explica o encantamento da música, do afago amoroso, do olhar banhado de luz, da expressão facial que se abre em flor. Aliás, explica também a gratuidade da própria flor que se oferece inteira e bela, para logo murchar e morrer.

Amor e oração, meditação e contemplação nascem e crescem num terreno distinto da racionalidade. Podem e devem contar com ela, evidentemente, mas se guiam por outra bússola e rumam em direção a outro porto. Tampouco seguem a lógica estreita e taxativa da matemática, embora sem esquecê-la. Oblação e gratuidade jamais se esgotam nos números e nos conceitos. Seu mistério secreto, sem deixar de ser humano, encontra-se muito além (ou acima) da compreensão humana. Finitude e infinitude se entrelaçam: numa trajetória de vida finita habita um espírito infinito, inquieto e irrequieto, que sempre busca superar-se a si mesmo, somente repousando na Casa de Deus, como lembra Santo Agostinho.

O amor da mulher/mãe/trabalhadora, na vida de cada um de nós, é ao mesmo tempo um lugar de chegada e de partida, que nos acompanha em toda a trajetória, desde o berço ao túmulo, do nascimento à morte. Ponto de referência onde o humano e o divino se cruzam, deixando marcas indeléveis gravadas na pedra viva da história. A mulher em sua entrega materna e em sua contribuição na sociedade, a exemplo do poeta e do artista, carrega em si algo de profundamente humano-divino, revelando na face da terra um pouco do oxigênio que se respira nos céus! Em cada mulher esconde-se uma oração, às vezes não recitada, mas potencialmente presente.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Codevasf propagandeia inverdades sobre as cisternas do P1MC


Objetivo é convencer a sociedade que as cisternas de plástico possuem mais benefícios
Asacom
01/03/2012
O superintendente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Paraníba (Codevasf) em Juazeiro, aproveitou a plateia do IV Festival do Umbú, realizado de 24 a 26 de fevereiro, em Uauá, Semiárido baiano, para enaltecer as cisternas de plástico polietileno em detrimento das cisternas de placas do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC).

Além de ser uma atitude que não condiz com a postura de um representante do poder público, as informações por ele utilizadas são equivocadas e comprometedoras, inclusive, para o próprio governo do qual ele faz parte.

 
Cisterna de plástico que se deformou depois de fortes chuvas no município de Cedro/PE
Vale salientar que em seu discurso, informações como o valor da cisterna de plástico, o destino dos recursos e o desemprego a que estão fadados os pedreiros do Semiárido foram assuntos ignorados pelo representante da Codevasf. Além do fato de que já existem cisternas de plástico, entregues recentemente em Pernambuco, que necessitaram de troca devido ao afundamento de parte delas depois de fortes chuvas.

Segundo ele, “faltam ainda 750 mil cisternas serem construídas no Programa Um Milhão de Cisternas, criado pelo Governo Lula, porque em oito anos foram construídas apenas 250 mil cisternas”. Ele também afirmou que “as cisternas de plástico têm 30 anos de garantia. As de barro têm dois anos”.

A ASA sente-se no dever de esclarecer que:

1.  O Programa Um Milhão de Cisternas não pertence ao Governo Federal. Ele é da ASA. O Governo Federal, baseado em propostas da ASA, Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), entre outros, criou o Programa Cisternas, no qual está inserido o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC).

2. É inverídica a informação de que apenas 250 mil cisternas foram construídas até hoje. Somente a ASA construiu 372 mil cisternas. Essa informação pode ser comprovada através de documentos, como os termos de recebimento das cisternas. Se forem contabilizadas todas as cisternas já construídas no Semiárido, através de outras iniciativas, como os convênios federais com os Estados, Municípios, Consórcios, além de cisternas de outros programas governamentais e da sociedade civil, esse número deve chegar a aproximadamente 600 mil cisternas.

3. Não nos consta que a garantia das cisternas de plástico seja de 30 anos. Existem documentos de pelo menos um dos fabricantes, comprovando que a garantia oferecida é de 5 anos e não de 30 anos.

4. A ASA desconhece a existência de cisternas de barro no Semiárido. Além disso, qualquer problema que eventualmente venha a ocorrer com as cisternas do Programa Um Milhão de Cisternas (feitas de solo-cimento) pode ser facilmente resolvido pela própria comunidade, que possui o conhecimento da técnica. No entanto, a ASA nunca se furtou em atender famílias que tenham tido problemas com as cisternas, mesmo após anos de construídas. Vale salientar que no próprio evento, em Uauá, havia pessoas que afirmaram ter cisternas do P1MC há mais de 10 anos sem nunca apresentar qualquer problema.

5. Finalmente, queremos enfatizar que enquanto as cisternas de placa empregam os pedreiros da região, gerando renda e empregos, as cisternas de plástico concentram os recursos em duas ou três grandes empresas, que não guardam nenhuma relação com a região, tampouco com os municípios, pois não movimentam a economia local, pois não é necessário comprar materiais de construção.



Fonte: ASA BRASIL

quinta-feira, 1 de março de 2012

DIREITOS HUMANOS DOS MIGRANTES

lançamento em breve...

FRATERNIDADE E SAÚDE PÚBLICA


Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS

"A Campanha da Fraternidade da CNBB sempre nos propõe um tema para estudo, reflexão e ação durante o tempo litúrgico da Quaresma. Trata-se, na verdade,  de complementar a conversão pessoal, própria deste período, com uma conversão de caráter pastoral e sociopolítico. Nessa perspectiva, a campanha elege determinada situação de abandono ou precariedade como centro de nossa atenção. Neste ano de 2012, está em pauta a Fraternidade e a Saúde Pública, cujo lema sublinha uma frase bíblica: “que a saúde se difunda sobre a terra...” (Eclo, 38,8)". Leia mais