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segunda-feira, 18 de junho de 2018

Feira Regional de Produtos Agroecológicos comemora Semana dos Orgânicos e leva grande público ao centro de Campina Grande

Cerca de 100 feirantes agroecológicos vindos de 30 municípios da Paraíba, das regiões do Agreste, Borborema, Curimataú, Seridó e Cariri do estado, estiveram reunidos no dia 06 de junho, em Campina Grande na Feira Regional de Produtos Agroecológicos. Das 7h as 12h, a Praça da Bandeira, no centro da cidade, ficou lotada de consumidores e agricultores, que comercializaram produtos e dialogaram sobre sua produção.

Com o tema “Por um São João Livre de Transgênicos e Agrotóxicos”, a feira foi uma promoção da Comissão de Produção Orgânica da Paraíba – CPOrg PB e teve como objetivo divulgar o produto orgânico agroecológico, como explicou Verônica Barbosa, assessora técnica da organização não governamental Patac e integrante da CPOrg: “Para a gente é uma alegria trazer essa proposta do alimento agroecológico para Campina Grande, o nosso objetivo é fazer com que a população conheça e se aproxime dessa produção, queremos fortalecer o acesso democrático a esse tipo de alimento”.

Na feira, que contou com 20 barracas, os consumidores puderam adquirir uma variedade de
frutas, hortaliças, tubérculos, sementes e grãos, ovos, leite, mel e produtos beneficiados como doces e polpas de frutas, bolos, tapiocas, beijus e comidas de milho, entre outros. Durante a feira, aconteceu o lançamento do fubá agroecológico, produto que dá origem ao cuscuz não transgênico, com a degustação e comercialização do produto. Uma esquete teatral foi apresentada pelos alunos do curso de Agroecologia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) que tratou do modelo do agronegócio versus o modelo da agroecologia. Houve ainda a distribuição de mudas, tudo ao som do legítimo forró ‘pé-de-serra’, animado pelo trio Puxando o fole.

Glória Batista, da coordenação executiva da Articulação do Semiárido Paraibano (ASA Paraíba) e da coordenação nacional da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), falou sobre como as feiras são uma expressão da agroecologia e da importância de eventos como a feira regional: "O alimento saudável é um elo que une o campo e a cidade, precisamos fortalecer essa relação e essa feira é um passo nesse sentido. Queremos um São João livre de transgênicos e de agrotóxicos e mais que isso, uma sociedade livre deles. Consumir veneno é plantar morte e nós semeamos a vida no semiárido".

A agricultora Zilda de Araújo Tavares, veio do Sítio Jenipapo de Cima, município de Puxinanã, vendeu cem por cento do que trouxe para a feira. Ela ainda não possui a certificação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), mas conta que nunca usou veneno na sua produção. Segundo ela, é crescente o interesse das pessoas por um alimento mais saudável: “Tem muita procura, quando as pessoas sabem que a produção vem de uma cisterna calçadão, sem nenhum tipo de veneno, elas ficam doidas para levar. Estão aqui só me perguntando quando haverá uma nova feira como essas aqui”, comentou.

Joseane Alves da Silva, veio do Sítio Pocinhos, município de Monteiro, Cariri do estado. Ela faz parte da Associação de Agricultores Familiares Agroecológicos de Monteiro (AAFAM), entidade cadastrada pelo MAPA, junto a CPOrg, que engloba outras cinco comunidades rurais. A agricultora participa da Feira Agroecológica do município há cerca de 10 anos e veio participar a convite da CPOrg. Ela se disse muito satisfeita com a iniciativa da feira e considera uma iniciativa importante para os agricultores e agricultoras na divulgação dos seus produtos.

A Feira Regional aconteceu em comemoração à semana dos orgânicos e também em alusão à semana do meio ambiente. Este é o 13º ano consecutivo em que as CPOrgs de todo o pais promovem eventos de divulgação da produção orgânica neste período.

A Comissão Estadual de Produção Orgânica (CPOrg), é formada por representantes de segmentos da rede de produção orgânica da Paraíba e entidades governamentais e não governamentais. Promoveram ainda a feira o Núcleo de Extensão Rural em Agroecologia da UEPB, o Centro Vocacional Tecnológico de Agroecologia e Produção Orgânica: Agrobiodiversidade do Semiárido (CVT) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Articulação Paraibana de Agroecologia.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Movimentos Sociais do campo reafirmam bandeiras de luta durante IV Encontro Nacional de Agroecologia


Foram quatro dias de troca de experiências, sementes, sabores e saberes entre agricultoras agricultores, jovens, estudantes, povos indígenas, comunidades tradicionais, pesquisadores, comunicadores/as, artistas populares, movimentos, organizações e representantes de 14 países. Todos juntos pelo fortalecimento da agroecologia durante o IV ENA - Encontro Nacional de Agroecologia realizado de 31 de maio a 03 de junho, no Parque Municipal Américo Renné Giannetti em Belo Horizonte, Minas Gerais.

O evento foi promovido pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) em parceria com redes estaduais, regionais e organizações da sociedade civil engajadas em experiências de promoção da agroecologia, da produção familiar e de construção de alternativas sustentáveis de desenvolvimento rural.

No primeiro dia, foi realizada a plenária das mulheres organizada pelo Grupo de Trabalho (GT) de mulheres da ANA.  Durante a plenária, com o lema “Sem feminismo não há agroecologia”, foi realizado o “encontro das águas” quando os “rios da vida das mulheres” construídos em cada região do país, no sentido de resgatar a contribuição das mulheres para a construção da agroecologia ao longo das últimas décadas, se encontraram numa emocionante simbologia de fortalecimento. Temas como violência contra as mulheres, a campanha “Pela justa divisão do trabalho doméstico”, políticas públicas que fortalecem a vida das mulheres no campo e suas formas de organização também foram debatidos na plenária. “Ter uma cisterna em casa muda tudo. O tempo que a gente gastava indo pegar água no balde, várias vezes por dia, a gente aproveita fazendo um doce, um bolo. Hoje a gente pode trabalhar com dignidade, se fortalecer em grupo. Isso que é a agroecologia”, afirmou a agricultora Jaciara Francilau, do município Sento Sé na Bahia.

À noite, houve a abertura político-cultural com representantes de povos afro e indígenas na grande tenda montada do parque municipal, onde foi realizada uma benção e uma reflexão sobre os costumes e saberes desses povos.  No segundo dia, os territórios apresentaram suas experiências nas instalações pedagógicas. Na Tenda da Caatinga I, Paraíba e Bahia abordaram a luta dos povos do Semiárido na região da caatinga. Luciano Silveira, da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, falou sobre o ambiente e a história de lutas e resistências do Semiárido. A agricultora Maria do Céu Silva, do Polo da Borborema, apresentou uma linha do tempo sobre a construção do fortalecimento da agricultura familiar no território, destacando a luta pela terra e a reforma agrária; a luta pela democratização da água; a autonomia e defesa das sementes da paixão e os 62 bancos de sementes comunitários no território; a autonomia para o armazenamento de forragem; a luta pela construção de mercados e a comunicação popular.

Roselita Vitor, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remígio-PB, também falou sobre a luta das juventudes no campo, a Marcha pela vida das Mulheres e pela Agroecologia, que acontece no território, e as ameaças às políticas públicas de convivência com o semiárido. “Estamos vivendo um período de golpe, um retrocesso. As escolas do campo estão fechando e já são mais de 23 escolas fechadas no nosso território. Já podemos perceber o aumento da violência contra as mulheres, a perda de secretarias importantes que a gente vinha dialogando. Sem contar no aumento da violência no campo. As casas são invadidas, os agricultores e agricultoras agredidos, precisam dormir na cidade e ir voltar pra terra e trabalhar durante o dia. Não é fácil, mas nós estamos resistindo porque nosso território é de luta e de resistência da juventude, das mulheres, dos trabalhadores e trabalhadoras”, contou Roselita.

No período da tarde aconteceu os seminários temáticos. O seminário de comunicação e cultura teve início com uma discussão sobre a democratização da comunicação. “A gente está em luta há mais de 25 anos por uma mídia democrática. E entendemos que se queremos uma sociedade mais justa e mais democrática, precisamos discutir os meios de comunicação. A regulamentação da comunicação precisa ser feita e se o governo não faz a gente precisa continuar fortalecendo as redes, os grupos, novos comunicadores. Percebendo como a cultura pode fortalecer nossa comunicação popular, pode possibilitar a discussão de temas importantes nas comunidades, fortalecendo os jovens, as mulheres”, disse Flor Posnansk do Fórum Nacional Pela Democratização da Comunicação.

O Teatro do Polo da Borborema também apresentou a peça “Pela Justa Divisão do Trabalho Doméstico”. “Esse grupo nasce da necessidade de fazer comunicação com as nossas bases. Essa peça traz uma reflexão e denúncias sobre a justa divisão do trabalho doméstico com as agricultoras. Todo esse trabalho é apresentado para diversos públicos, em diversas cidades e a gente percebe como o teatro é uma importante ferramenta pedagógica na vida dessas pessoas, porque elas interagem, se veem nas peças, se identificam com os personagens”, disse o assessor técnico Edson Possidônio, da AS-PTA agroecologia.

No sábado, terceiro dia de evento, foi inaugurada a Feira de Saberes e Sabores do IV ENA. Mais de 100 tendas com produtos da agricultura familiar agroecológica de todas as regiões do Brasil. Na tenda da Paraíba, encontrava-se artesanato, farinha, doces, cocadas, licores, grãos, sementes, mudas. Segundo o agricultor Audecyr Nunes, da comunidade Lagoa de São João em Princesa Isabel, “Uma viagem de 8 dias são 8 anos de vida para um agricultor”. Audecyr fala aos companheiros da feira a importância de estar participando de um evento como o ENA. “As vezes os agricultores pensam que vão perder porque vão estar longe de casa por muito dias, mas aqui a gente pode aprender muito, compartilhar nossas experiências. É um aprendizado que ninguém pode pagar”, falou o agricultor.

De forma simultânea, também acontecia o espaço da saúde, o espaço da ciranda, as oficinas e atividades autogestionadas, seminários nacionais, apresentações de teatro, música e as plenárias de juventudes, quilombola e indígena. Na plenária das juventudes, que hoje são 30% do público do encontro, experiências do campo e da cidade foram compartilhadas com anúncios e denuncias sobre a realidade de cada território, com o objetivo de construir estratégias agroecológicas coletivas. À noite, os agricultores e agricultoras tiveram um momento de trocas de sementes. A agricultora Rosemary Possi, de Santa Luzia, município de Soledade, trocou sementes de milho, feijão e jerimum por sementes de coentro, mandioca e uma muda de açaí. “Foi lindo ver a diversidade de sementes da Paraíba, do Ceará, da Bahia e de outras regiões do nosso país. E é nesse espaço que a gente percebe que a nossa luta é a mesma. Os cuidados com as sementes, com a água e a luta pelo fortalecimento da agricultura familiar”, disse a agricultora.

O sábado encerrou com a leitura das cartas políticas. As mulheres reafirmaram suas bandeiras contra o machismo, o racismo e a LGBTfobia. As juventudes trouxeram a importância em considerar a diversidade sexual na construção da agroecologia e os povos originais denunciaram os assassinatos indígenas, o desrespeito aos seus povos e ao ambiente, e afirmaram a agroecologia como caminho para construção do bem social. Por fim, Diones e Maria José leram a carta do IV ENA. A carta reafirma a agroecologia como uma alternativa para a superação do modelo de desenvolvimento agrícola e abastecimento alimentar ambientalmente predatório e socialmente injusto que permanece dominando as orientações políticas do Estado brasileiro.

No dia 3 de junho, domingo, o IV ENA foi encerrado com um ato público unificado pelas ruas do centro de Belo Horizonte, reunindo o 11º Congresso do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), o IV Encontro Nacional de Agroecologia e o movimento Quem Luta Educa. Saindo em passeata da Praça da Liberdade ao Parque Municipal, cerca de 5 mil pessoas ocuparam as ruas da cidade em defesa da democracia e da agroecologia e contra os retrocessos e perdas de direitos após o golpe no país. No parque, foi oferecido um banquete agroecológico aos participantes e visitantes do evento.

Confira a síntese da Carta Política do IV ENA: https://goo.gl/zfKixF