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terça-feira, 23 de março de 2010

P Á S C O A

Quanto mais ardente a sede,
Mais refrescante a água;

Quanto mais aguda a fome,
Mais saboroso o alimento;

Quanto mais árida a terra,
Mais bela a flor;

Quanto mais estéril o deserto,
Mais aconchegante o oásis;

Quanto mais escura a treva,
Mais vivo o brilho da luz;

Quando mais longa a noite,
Mais esperada a aurora;

Quanto mais profundo o silêncio,
Mais criativa a palavra;

Quanto mais prolongada a ausência,
Mais ansiado o reencontro;

Quanto mais cortante o frio,
Mais calorosa a lareira da casa;

Quanto mais ausente o amor,
Mais doce a saudade;

Quanto mais pesada a cruz,
Mais leve a ressurreição;

Quanto mais intensa a quaresma,
Mais gloriosa a Páscoa!



Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
São Paulo, 23 de março de 2010

segunda-feira, 15 de março de 2010

MIGRANTES TEMPORÁRIOS - Visita a usina Tabu


SPM, Ministério do Trabalho e STR Caaporã visitam alojamentos em Caaporã

No dia 10 de março de 2010 o Serviço Pastoral dos Migrantes em articulação com o Ministério do Trabalho em Emprego e o sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caaporã realizaram uma visita de fiscalização aos alojamentos da Usina Tabu – Caaporã PB.

A fiscalização teve como objetivo verificar as condições físicas e sanitárias dos alojamentos e ouvi dos trabalhadores quais são os principais problemas enfrentados no dia-a-dia do corte da Cana; entre os entraves relatados destacamos: jornada de trabalho, benefícios sociais, esclarecimentos sobre o contrato safra e condições da água fornecida pela usina Tabu.

Após a verificação in loco das denúncias relatadas pelo SPM e o STR de Caaporã o auditor do Ministério do Trabalho e Emprego, Fernando Milanez, afirmou que vai exigir imediatamente da usina Tabu um exame de potablilidade da água fornecida aos trabalhadores e também vai verificar as outras denúncias relatadas pelos trabalhadores.

A visita realizada ao alojamento da Usina Tabu no dia 10 de março reforça o poder da articulação entre as organizações (SPM, Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e Ministério do Trabalho) na busca de melhorias das condições de trabalho dos trabalhadores Assalariados da Cana.

DIREITOS HUMANOS: DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS

Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
Comparar os presos políticos de Cuba aos prisioneiros comuns do Brasil foi mais um dos deslizes do presidente Lula. Não se trata apenas de “uma frase infeliz”, mas de uma postura que levanta interrogações mais sérias e profundas. Por que um dissidente de determinada ordem institucional é qualificado de preso político sob um regime, enquanto, sob outro, ele não passa de um simples criminoso? Por que é protegido de um lado e criminalizado de outro? Por que dois pesos e duas medidas? Mais grave ainda: por que alguém que fez uso dessa forma de luta hoje a equipara aos crimes mais banais do cotidiano?

A defesa dos Direitos Humanos está acima das fronteiras políticas e ideológicas. Coloca-se para além das bandeiras e hinos nacionais. Desconhece as diferenças entre raças e culturas e está acima da religião, do sexo ou da cor da pele. A integridade física e psicológica de uma pessoa, a liberdade de opinião e expressão, o mínimo vital para a sobrevivência são coisas que devem ser preservada a qualquer custo. O respeito aos direitos primordiais da pessoa humana representa, simultaneamente, uma herança dos regimes democráticos e uma exigência ética dos princípios evangélicos e de várias outras opções religiosas.

A greve de fome, por outro lado, constitui não raro o último recurso contra a ordem estabelecida. Tem uma história longa de resistência e teimosia. Muitos exemplos poderiam ser enumerados, inclusive o do então metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva. O mais recente na memória do povo brasileiro, sem dúvida, é o de Dom Frei Luiz Flávio Cappio, bispo de Barra – BA, em sua luta contra a transposição das águas do Rio São Francisco. Constituem formas extremadas de opositores que não dispõem de outras armas para lutar.

Confundir estes atos solitários e heróicos com as ações violentas do crime organizado é algo inaceitável, para dizer o mínimo. A privação livre do alimento enquanto forma de oposição a formas ou decisões totalitárias de governo, desde um ponto de vista moral, não tem base de comparação com o comércio de drogas, os assaltos à mão armada, o latrocínio e outros crimes do gênero. A greve de fome ou a greve em suas variadas conotações carrega um anseio de transformação social, política, econômica ou cultural. De alguma forma, está alicerçada num sonho de justiça e paz. Já o crime, embora possa ter motivações de natureza sócio-política, como a pobreza e a miséria, entre outras, traz sempre a marca de uma violência que tende a estender-se em cadeia espiral.

Só para recordar, os combatentes do regime stalinista ou nazi-fascista, bem como os opositores das ditaduras militares latino-americanas, deixam na história pegadas vivas na luta pela defesa dos direitos humanos. Desnecessário aqui citar nomes, eles estão à flor da memória. O mesmo não se pode afirmar dos chefes do crime organizado em nível mundial. Sua passagem deixa como pegadas nefastas a destruição de vidas, de famílias e às vezes de populações inteiras. Uma coisa é opor-se a qualquer tipo de totalitarismo: religioso, político, econômico ou cultural. Bem outra é o tráfico de drogas, armas, seres humanos ou órgãos para transplante.

Em síntese, ditadura é sempre ditadura, resistência é sempre resistência. Podemos questionar o grau, as motivações, as formas e as estratégias de luta. Mas nunca criminalizar os movimentos de oposição que procuram a defesa, a conquista ou a garantia dos direitos humanos. Menos ainda ressuscitar o espectro da ideologia de segurança nacional, isto é, comparar as lutas sócio-políticas a atos de delinqüência comum.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher

MULHERES, MÃES, TRABALHADORAS, GUERREIRAS...

São elas que nos nutrem,

quando sequer sabemos o que é alimentar-se;

São elas que nos ensinam os primeiros passos,

quando as pernas fraquejam e o medo nos domina;

São elas que perdoam nossas primeiras aventuras,

das quais mais cedo ou mais tarde nos arrependeremos;

São elas que ouvem nossas dores e enxugam nossas lágrimas,

quando o chão foge debaixo dos pés e os marcos desaparecem da estrada;

São elas que nos ensinam a amar,

quando do amor apenas sabemos míseros balbucios;

São elas que nos emprestam o olhar, o sorriso e a palavra,

quando a noite se faz escura, o deserto estéril e o céu indiferente;

São elas que fazem do próprio coração um refúgio,

quando os embates do mundo nos fazem desabar;

São elas que fortalecem o pretensioso “sexo forte”,

quando essa mesma força se bate contra as adversidades da vida;

São elas a luz da resistência, da teimosia e da esperança,

quando um abismo se abre à nossa frente e o horizonte se fecha;

São elas que, apesar de dupla e tripla jornada,

seguem com salários inferiores a seus companheiros de trabalho;

São eles que assumem o leme do frágil barco familiar,

quando os ventos da tempestade rugem furiosos em suas janelas;

São elas que sustentam os movimentos sociais,

quando nos dominam o desencanto e a disputa surda pelo poder;

São elas que sujam as mãos nos mais diferentes serviços,

sem perder o mistério do carinho e do afago, do beijo e do abraço;

São elas que nos chamam ao chão, à terra, à vida cotidiana,

quando os projetos nos fazem perder a cabeça e voar pelas alturas;

São elas estrelas no firmamento incerto,

quando a história pessoal e coletiva parece errar sem bússola.


Alfredo J. Gonçalves, CS

São Paulo, 08 de março de 2010