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segunda-feira, 16 de novembro de 2015

O5 de novembro de 2015 em “Bento” Rodrigues (Mariana –MG)

A palavra solidariedade está sendo colocada em prática em terras das Minas Gerais. Um lugar pequeno, no meio do nada, como mineiramente e carinhosamente se fala, está em destaque em todos os tipos de mídia do Brasil. A natureza, que é obra de Deus, perde o seu encanto porque mãos humanas, em busca do lucro, estão maltratando-a. O ser humano também é obra da natureza divina, e o que se viu no dia 5 de novembro de 2015, no distrito de Bento Rodrigues, no município de Mariana, nas terras de Minas Gerais, provocou-nos e está nos provocando em dias que se seguem, após imagens que surgem, e fatos que são revelados. Pois, nós, seres humanos, não estamos cuidando de nós mesmos e da natureza com a dedicação e a responsabilidade a nós confiada. (Povoar a terra e dominá-la. Gn 9,7). A terra é nossa casa comum, e dominá-la não significa sacrificá-la, ou destruí-la.

Seria maravilhoso descrever o fato que envolveu uma região mineira com a habilidade poética de Drummond. Que pena! Não temos a habilidade poética e dialética do grande poeta, que se revoltou já na sua juventude com a devastação de sua terra natal – Itabira – quando lá se iniciou a exploração do minério em Minas Gerais, com a criação da Companhia Vale do Rio Doce. Parece que episódios do passado não nos ensinaram nada! E, eis que Bento Rodrigues e povoados adjacentes são devastados, somem do mapa em fração de minutos, cobertos por uma grande quantidade de rejeito de minério, símbolo do domínio do capital que some e consome com vidas humanas. Impossível ser poético como Drummond, nestas horas.

Mas podemos nos indignar como ele, exigir que se faça justiça com os que usam do argumento que dão emprego, e sustento a muitas pessoas, e se julgam imunes a punições exemplares, favorecendo-se da benevolência de quem os fiscaliza ou os julga. São cerca de 750 barragens de rejeito nas Minas Gerais. Que benefícios elas trazem à população da região e brasileira como um todo? Ou são benefícios particulares? São fiscalizações regularmente?; Sérias ou de faz de conta? Caminhando pela região, constata-se que a população à beira do Rio Doce está em profunda tristeza. A cor de ferrugem se mistura em nossa mente como uma mancha de sangue. Há racionamento de água para milhares de pessoas nas cidades vizinhas que fazem a captação de água no Rio Doce. Este drama poderá permanecer por pelo menos uns 5 dias, se não ocorrerem chuvas com grande volume de água. Ademais, estamos no período da piracema que, por ironia do destino, não acontece, pois não há peixes migrando para fazê-la.

Que a justiça seja feita! Só assim catástrofes provocadas por mãos humanas, gananciosas do capital, não mais se repetirão, e as criaturas divinas, humanas ou não, jamais serão cobertas pelas sujeiras que o capital produz, que faz com que histórias, muitas histórias, sejam soterradas. Mas estas não desaparecerão da memória das pessoas atingidas, bem como a dignidade delas, por mais que sejam indenizadas, jamais será restabelecida em toda plenitude.

É com o olhar voltado para estes migrantes ambientais que vai a nossa palavra de conforto e solidariedade. Não desistam de viver, não deixem de sonhar, não deixem de querer e buscar a felicidade, pois foi por este motivo que Deus nos criou.

Repudiamos toda e qualquer tentativa de isenção de punição aos responsáveis pela barbárie cometida contra seres humanos e contra a natureza, uma vez que afetou não só os moradores de Bento Rodrigues. A lama da mancha do capital afetou os todos os moradores da bacia do Rio Doce. São milhões de peixes e outros animais aquáticos mortos. Milhões de seres humanos sem água, e com uma nódoa em suas histórias de dor, sofrimento, e angústias. Que os culpados não fiquem impunes, ou correremos o risco de cometer o pior pecado – o da omissão - que atenta contra a vida, a qual devemos defender em todas as suas formas e plenitude.

SPM – Serviço Pastoral dos Migrantes
São Paulo 09 de novembro de 2015

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