
No último dia 17 de maio, o Grupo de Trabalho – GT Juventude e Agroecologia da Articulação do Semiárido Paraibano esteve reunido em Campina Grande para um momento de formação sobre o tema da educação do campo, abordando a onda de fechamento das escolas rurais que vem acontecendo em todas as regiões do estado, debatendo os efeitos negativos para a agricultura familiar e, em especial, a juventude.
A formação contou com a facilitação da professora Albertina Araújo, da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, Campus Bananeiras, e membro da Rede de Educação do Campo da Borborema. O encontro contou ainda com representantes do ForteCampo - Fórum de Educação do Campo do Cariri Paraibano.
A reunião teve início com uma rodada, onde os jovens presentes de cada território onde atuam, socializaram os números de escolas fechadas em seus municípios/comunidades. Só nas regiões das pessoas presentes a reunião (Cariri Oriental, Curimataú, Agreste da Borborema e Seridó), foi levantado o número de 79 escolas fechadas, nos últimos anos. Os dados vêm de um levantamento de onde as organizações da ASA Paraíba atuam com o Programa Cisternas nas Escolas, desde o ano de 2009.

Albertina falou sobre os estudos realizados no âmbito da Rede de Educação do Campo da Borborema, incluindo uma pesquisa qualitativa em que se procurou entender os sujeitos afetados pelo fechamento das escolas. “Queríamos saber como as pessoas estavam lidando com a situação. Foi uma pesquisa participativa em que fomos até as comunidades dos municípios de Areia, Solânea, Massaranduba e Remígio, que era os locais com maior número de fechamentos”, disse. “A gente percebe que o camponês, mesmo aquele que não estudou, não despreza o ambiente escolar, e a vê como um lugar que dá oportunidades. O que vimos com a pesquisa foi que muitas escolas fecharam porque faltou um pouco a informação sobre os direitos da comunidade”, complementou.
Segundo a professora, as justificativas para o fechamento de escolas que tem sido dadas não encontra amparo na lei, por isso ela lembra o quanto é importante que as pessoas tenham a informação. “Desde 2014, um decreto presidencial só permite fechar uma escola se a comunidade autorizar”.

Muitos jovens trataram ainda das escolas que se mantém abertas, porém em completo abandono pelo poder público: “A escola da minha comunidade vai fazer mais de 10 anos que ninguém coloca uma telha lá. Está horrível a situação, as pessoas até se cotizaram para comprar um vaso sanitário. A gente se pergunta para onde está indo o recurso que vem para a escola”, conta Moizés de Sousa Alves, jovem do município de Aroeiras.
Os jovens presentes à reunião falaram ainda sobre o significado e a importância de terem estudado em escolas do campo que debatiam e levavam em consideração o seu contexto e a vida na agricultura familiar, o quanto isso foi definitivo para a construção de uma identidade camponesa e na decisão de permanecer no campo.
Carla Mailde Feitosa Santa Cruz, e integrante do ForteCampo, de Sumé e tem dois filhos pequenos que estudavam na escola da Comunidade Carnaúba, uma das três escolas fechadas esse ano pelo poder público municipal. Ela comentou sobre a situação de dificuldade que as crianças das três localidades (comunidades Pitombeira, Carnaúba e Assentamento Mandacaru) vem enfrentando para poder estudar e fez um apelo para a luta coletiva: “As leis estão sendo violadas, precisamos nos organizar e pensar em medidas mais enérgicas. Fechar escola deveria ser uma exceção e está se tornando regra, nós precisamos reagir”, disse.
Ao final do encontro foram tirados os seguintes encaminhamentos: o Comitê Estadual de Educação do Campo solicitará uma audiência com o Governador Ricardo Coutinho para debater o problema; O GT da Juventude e a coordenação da ASA Paraíba vão realizar um Seminário Estadual sobre educação no campo, com representação de diversos movimentos rurais; Divulgar amplamente a Nota Técnica do Ministério Público Federal sobre o reordenamento das escolas do campo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário