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sexta-feira, 6 de abril de 2012

MINHAS MÃOS


Minhas mãos podem erguer-se em êxtase,
Louvando a harmonia de toda a criação;
Mas podem também ocultar-se nos bolsos,
Apáticas e indiferentes à beleza das criaturas.

Minhas mãos podem ser instrumento de benção,
Num mundo marcado pelo medo e pelo ódio;
Mas podem também maldizer tudo e todos
Perpetuando a espiral dinâmica da violência.

Minhas mãos podem abrir-se para acolher o estranho,
Transformando-o em irmão de casa e de mesa;
Mas podem também fechar-se em um gesto de repulsa,
Desestimulando toda tentativa de aproximação.

Minhas mãos podem falar de toques, afagos e carícias,
Linguagem acessível a todos os povos e culturas;
Mas podem também falar de socos e empurrões,
Para impedir qualquer tido de comunicação.

Minhas mãos podem estender-se solidárias ao náufrago
Que batido pela tempestade perde o rumo do porto;
Mas podem também quedar-se mudas ao grito de socorro,
Deixando que se afogue nas águas turvas e profundas.

Minhas mãos podem aprender a arte de construir,
Tijolo a tijolo edificar as bases de uma nova sociedade;
Mas também podem esmerar-se em destruição,
Tudo reduzindo a cinzas, escombros e ruínas.

Minhas mãos podem semear no solo fecundo da história,
Para que outras gerações colham frutos de paz;
Mas podem também espalhar a cizânia no meio da noite,
Abortando toda e qualquer possibilidade de colheita.

Minhas mãos podem ser artífices de um amanhã recriado,
Transformando sonhos de justiça em obras concretas;
Mas também podem disseminar fantasmas e pesadelos,
Quando se convertem em armas de vingança.

Minas mãos podem unir-se para cultivar a oração,
Num agradecimento de riso largo e aberto à vida;
Mas também podem separar-se como garras,
Em atitude constante de defesa ou agressão.


Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
São Paulo, 28 de março de 2012

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