Por que trabalha, sofre e luta a minha gente?
Por que geme, chora e se organiza a minha
gente?
Por que canta e dança, luta e festeja a minha
gente?
Por que minha gente insiste em viver e não
apenas sobreviver?
Por que se levanta e grita a minha gente no
dia 7 de setembro?
A minha gente grita porque é vítima de
exclusão social,
A minha gente grita porque quer ser
protagonista do tempo,
A minha gente grita porque precisa se fazer
ver e ouvir,
A minha gente grita, na pandemia, pelas
janelas e varandas de suas casas,
A minha gente grita, desde sempre, pela vida
em primeiro lugar,
A minha gente grita no Dia da Pátria porque
jamais esqueceu a cidadania!
A minha gente grita contra a pobreza, a
miséria e a fome,
A minha gente grita contra o racismo, o preconceito
e a discriminação,
A minha gente grita com a repressão, a
exploração e o autoritarismo,
A minha gente grita contra todo tipo de
tirania, ditadura e império,
A minha gente grita contra os atentados ao
processo democrático!
A minha gente grita pela dignidade, a justiça
e os direitos no trabalho,
A minha gente grita pela terra onde possa
plantar, colher e se alimentar,
A minha gente grita pela terra onde erguer um
teto para proteger a família,
A minha gente grita pela defesa do ar, das
águas, do meio ambiente e da Terra,
A minha gente grita para deixar a arquibancada
da história e entrar em campo,
A minha gente grita para ter vez e voz na participação
da utopia do Reino!
A minha gente grita em solidariedade os
infectados e afetados pela pandemia,
A minha gente grita pelos milhões de mortos e
pelas famílias enlutadas,
A minha gente grita na voz das mulheres
sujeitas à violência doméstica.
A minha gente grita na voz dos negros que há
séculos “estão privados de respirar”,
A minha gente grita na voz dos povos indígenas
e das comunidades quilombolas,
A minha gente grita na voz dos migrantes, das
crianças e do povo de rua,
A minha gente grita na voz de todas as
minorias “invisíveis e descartáveis”!
A minha gente grita do fundo dos porões
abandonados e esquecidos,
A minha gente grita a partir dos longínquos
grotões onde impera o descaso,
A minha gente grita desde as periferias
relegadas a uma cidadania de segunda classe,
A minha gente grita no campo e na cidade por
saúde, educação, luz e paz;
A minha gente grita aos céus e aos deuses pela
unidade de todos os povos,
A minha gente grita pela construção conjunta
de “nossa casa comum”!
A minha gente grita por um sistema econômico
onde a vida tenha primazia sobre o lucro,
Onde a produção e a produtividade importem
menos que a distribuição dos frutos,
Onde idosos e crianças representem nossa
memória viva e nosso futuro solidário,
Onde todos, homens e mulheres, possam fazer
parte do grande mutirão pela vida,
Onde a terra, o teto e o trabalho sejam
direitos sagrados e assegurados!
Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs,
vice-presidente do SPM
Rio de Janeiro, 2 de setembro de 2020
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