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quinta-feira, 16 de junho de 2016

MIGRAÇÃO E ECOLOGIA: O GRITO QUE VEM DA TERRA



31ª SEMANA DO MIGRANTE  – 12 a 19 de junho de 2016

MIGRAÇÃO E ECOLOGIA: O GRITO QUE VEM DA TERRA

Cora Coralina, em seu poema, o Cântico da Terra, diz: Eu sou a terra, eu sou a vida. Do meu barro primeiro veio o homem. De mim veio a mulher e veio o amor. Veio a arvore, veio a fonte. Vem o fruto e vem a flor. Portanto, nesta singeleza e nesta ternura, do nascedouro da vida, atualmente vivemos com a contradição da humanidade que apenas quer globalizar o lucro e o desenvolvimento de uma classe. E por esta razão, encontramos, os seguintes desafios na migração:
a.       Nas regiões de origem, quando a seca se torna motivo de lucro para alguns e penúria para a maioria, ocorre migração – a “indústria” da seca é sustentada por caciques eleitorais que se apoiam em alianças políticas entre o poder local, estadual e federal. Assim, estes poderosos não permitem que a população se emancipe na construção de alternativas sustentáveis. Hoje a convivência com o semiárido é um fato comprovado pelas iniciativas populares e sua potencialização vem evitar a migração forçada, e trabalhar para uma consciência política de exercício democrático.
b.      Nos centros urbanos e regiões litorâneas, as inundações afetam sobretudo as populações mais pobres, que estão em locais de risco, como beiras de rios, barrancos, mangues, etc.
c.       Grandes projetos (PAC) – grandes empresas, como mineradoras, construtoras, entre outras, praticam o extrativismo sem limites e não permitem a participação da população nas principais decisões dos projetos. Este foi o caso, por exemplo, de Mariana-MG, onde as mineradoras Samarco e Vale produziram rejeitos para além dos limites da barragem. O estouro era previsível, mais a degradação do trabalho e o valor da vida, está aquém do lucro e da mais valia do capital, assim, as vidas ceifadas e contabilizadas são minimizadas pelo lucro e pelo desenvolvimento desenfreado.
d.      Nas moradias coletivas e precárias, como favelas e cortiços o problema ambiental também está presente, na medida em que estas habitações não têm ventilação suficiente; no calor, o aquecimento é maior que o do meio externo, portanto essa parte da população, vive sempre em situação inóspita e ausência constante de políticas públicas adequadas.
e.       Moradores de rua – muitos são migrantes/imigrantes, sendo que boa parte trabalha, fazendo bicos na coleta de materiais recicláveis, artistas de faróis, ”flanelinhas”, guardadores de carro, descarregadores de caminhão, entre outros. No inverno estão sujeitos à doença e à morte, sobretudo quando há omissões por parte do poder público e de uma sociedade indiferente.
f.       Trabalho explorado ou escravo – pessoas são recrutadas para desmatamentos ou colheitas em regiões distantes, onde sofrem todo o tipo de violência, incluindo aí a perda de liberdade e o trabalho forçado. Imigrantes são trazidos de seus países por traficantes que exploram sua força de trabalho. São homens, mulheres e até crianças. É o caso por exemplo de algumas oficinas de costura na cidade de São Paulo, ou usinas de cana e carvoarias, no Mato Grosso do Sul e outros estados.
g.      Povos indígenas, que não tem suas áreas demarcadas, são deslocados de seu habitat e transformados em migrantes forçados. Grileiros, a serviço do agronegócio, mineradoras, entre outros, praticam a violência, sob proteção de fazendeiros, deputados, poder judiciário, polícias, meios de comunicação, etc. Há toda uma articulação parlamentar para destituir dos povos indígenas o espaço que já lhe era próprio.  Estes territórios são cobiçados para serem explorados e transformados em mercadoria.
h.      As grandes hidroelétricas deslocam um grande número de trabalhadores/as migrantes para a construção da usina e, quando o lago enche, desloca pessoas e degrada o meio ambiente, causando desequilíbrios e destruição.
i.        A não realização da Reforma Agrária e agrícola facilita a formação de grandes latifúndios, monocultivos e agropecuária extensiva, que acaba expulsando os camponeses camponesas que vivem do campo, forçando mais deslocamentos e consequentemente um empobrecimento maior dos filhos e filhas da terra.
j.        Apesar de tudo, os migrantes trazem em sua bagagem conhecimentos de plantas, culturas agrícolas, ervas medicinais, sementes crioulas, e um misto de culturas, mas não são valorizados e nem reconhecidos.


Recorrendo ao Papa Francisco em sua mensagem no dia internacional do Migrante em 2015 Nos nossos dias, tudo isto assume um significado particular. Com efeito, numa época de tão vastas migrações, um grande número de pessoas deixa os locais de origem para empreender a arriscada viagem da esperança, com uma bagagem cheia de desejos e medos, à procura de condições de vida mais humanas. Não raro, porém, estes movimentos migratórios suscitam desconfiança e hostilidade, inclusive nas comunidades eclesiais, mesmo antes de se conhecer as histórias de vida, de perseguição ou de miséria das pessoas envolvidas. Neste caso, as suspeitas e preconceitos estão em contraste com o mandamento bíblico de acolher, com respeito e solidariedade, o estrangeiro necessitado.
Reiteramos que essa mensagem continua atual e que também, demandamos o que Francisco também propõe para humanidade: “À globalização do fenômeno migratório é preciso responder com a globalização da caridade e da cooperação, a fim de se humanizar as condições dos migrantes. Ao mesmo tempo, é preciso intensificar os esforços para criar as condições aptas a garantirem uma progressiva diminuição das razões que impelem populações inteiras a deixar a sua terra natal devido a guerras e carestias, sucedendo muitas vezes que uma é causa da outra.


Para o migrante a Pátria é TERRA que lhe dá o pão” J.B Scalabrini. 


SPM – Serviço Pastoral dos Migrantes – 12 a 19 de junho de 2016

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