31ª SEMANA DO MIGRANTE
– 12 a 19 de junho de 2016
MIGRAÇÃO E ECOLOGIA: O GRITO QUE
VEM DA TERRA
Cora Coralina, em seu
poema, o Cântico da Terra, diz: Eu sou a terra, eu sou a vida. Do meu barro primeiro veio
o homem. De mim veio a mulher e veio o amor. Veio a arvore, veio a fonte. Vem o
fruto e vem a flor. Portanto, nesta
singeleza e nesta ternura, do nascedouro da vida, atualmente vivemos com a
contradição da humanidade que apenas quer globalizar o lucro e o
desenvolvimento de uma classe. E por esta razão, encontramos, os seguintes
desafios na migração:
a.
Nas regiões de origem,
quando a seca se torna motivo de lucro para alguns e penúria para a maioria,
ocorre migração – a “indústria” da seca é sustentada por caciques eleitorais
que se apoiam em alianças políticas entre o poder local, estadual e federal.
Assim, estes poderosos não permitem que a população se emancipe na construção
de alternativas sustentáveis. Hoje a convivência com o semiárido é um fato
comprovado pelas iniciativas populares e sua potencialização vem evitar a
migração forçada, e trabalhar para uma consciência política de exercício
democrático.
b.
Nos centros urbanos e
regiões litorâneas, as inundações afetam sobretudo as populações mais pobres,
que estão em locais de risco, como beiras de rios, barrancos, mangues, etc.
c.
Grandes projetos (PAC) –
grandes empresas, como mineradoras, construtoras, entre outras, praticam o
extrativismo sem limites e não permitem a participação da população nas
principais decisões dos projetos. Este foi o caso, por exemplo, de Mariana-MG,
onde as mineradoras Samarco e Vale produziram rejeitos para além dos limites da
barragem. O estouro era previsível, mais a degradação do trabalho e o valor da
vida, está aquém do lucro e da mais valia do capital, assim, as vidas ceifadas
e contabilizadas são minimizadas pelo lucro e pelo desenvolvimento desenfreado.
d.
Nas moradias coletivas e
precárias, como favelas e cortiços o problema ambiental também está presente,
na medida em que estas habitações não têm ventilação suficiente; no calor, o
aquecimento é maior que o do meio externo, portanto essa parte da população,
vive sempre em situação inóspita e ausência constante de políticas públicas
adequadas.
e.
Moradores de rua –
muitos são migrantes/imigrantes, sendo que boa parte trabalha, fazendo bicos na
coleta de materiais recicláveis, artistas de faróis, ”flanelinhas”, guardadores
de carro, descarregadores de caminhão, entre outros. No inverno estão sujeitos
à doença e à morte, sobretudo quando há omissões por parte do poder público e
de uma sociedade indiferente.
f.
Trabalho explorado ou escravo
– pessoas são recrutadas para desmatamentos ou colheitas em regiões distantes,
onde sofrem todo o tipo de violência, incluindo aí a perda de liberdade e o
trabalho forçado. Imigrantes são trazidos de seus países por traficantes que
exploram sua força de trabalho. São homens, mulheres e até crianças. É o caso
por exemplo de algumas oficinas de costura na cidade de São Paulo, ou usinas de
cana e carvoarias, no Mato Grosso do Sul e outros estados.
g.
Povos indígenas, que não
tem suas áreas demarcadas, são deslocados de seu habitat e transformados em
migrantes forçados. Grileiros, a serviço do agronegócio, mineradoras, entre outros,
praticam a violência, sob proteção de fazendeiros, deputados, poder judiciário,
polícias, meios de comunicação, etc. Há toda uma articulação parlamentar para
destituir dos povos indígenas o espaço que já lhe era próprio. Estes territórios são cobiçados para serem
explorados e transformados em mercadoria.
h.
As grandes
hidroelétricas deslocam um grande número de trabalhadores/as migrantes para a
construção da usina e, quando o lago enche, desloca pessoas e degrada o meio
ambiente, causando desequilíbrios e destruição.
i.
A não realização da
Reforma Agrária e agrícola facilita a formação de grandes latifúndios,
monocultivos e agropecuária extensiva, que acaba expulsando os camponeses camponesas
que vivem do campo, forçando mais deslocamentos e consequentemente um
empobrecimento maior dos filhos e filhas da terra.
j.
Apesar de tudo, os
migrantes trazem em sua bagagem conhecimentos de plantas, culturas agrícolas,
ervas medicinais, sementes crioulas, e um misto de culturas, mas não são
valorizados e nem reconhecidos.
Recorrendo ao Papa Francisco
em sua mensagem no dia internacional do Migrante em 2015 “Nos nossos dias, tudo isto assume um significado
particular. Com efeito, numa época de tão vastas migrações, um grande número de
pessoas deixa os locais de origem para empreender a arriscada viagem da
esperança, com uma bagagem cheia de desejos e medos, à procura de condições de
vida mais humanas. Não raro, porém, estes movimentos migratórios suscitam
desconfiança e hostilidade, inclusive nas comunidades eclesiais, mesmo antes de
se conhecer as histórias de vida, de perseguição ou de miséria das pessoas
envolvidas. Neste caso, as suspeitas e preconceitos estão em contraste com o
mandamento bíblico de acolher, com respeito e solidariedade, o estrangeiro
necessitado.
Reiteramos que essa mensagem
continua atual e que também, demandamos o que Francisco também propõe para
humanidade: “À globalização do fenômeno
migratório é preciso responder com a globalização da caridade e da cooperação,
a fim de se humanizar as condições dos migrantes. Ao mesmo tempo, é preciso
intensificar os esforços para criar as condições aptas a garantirem uma
progressiva diminuição das razões que impelem populações inteiras a deixar a
sua terra natal devido a guerras e carestias, sucedendo muitas vezes que uma é
causa da outra.
“Para o migrante a Pátria é TERRA que lhe dá o pão” J.B Scalabrini.
SPM – Serviço Pastoral dos Migrantes – 12 a 19 de
junho de 2016
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