A Articulação no
Semiárido Paraibano – ASA PB é um espaço de
articulação política estadual da sociedade civil organizada, no Semiárido paraibano,
formada
por ONG’s, Associações, Cooperativas, Sindicatos, Pastorais Sociais e Entidades
de Agricultores e de assessoria aos agricultores. A ASA se fundamenta no compromisso com as necessidades, potencialidades e
interesses das populações locais, em especial os agricultores e agricultoras
familiares, baseado na conservação, uso sustentável e recomposição ambiental
dos recursos naturais do Semiárido e na quebra do monopólio de acesso à terra, à
água e a outros meios de produção. Como processo metodológico de
formação, as organizações da ASA Paraíba têm buscado resgatar e valorizar o
saber popular, como ponto de partida para qualquer transformação social
duradoura e sustentável. Os intercâmbios de conhecimentos entre
agricultores(as), as sistematizações e divulgação de experiências, as
mobilizações sociais, são algumas atividades estratégicas que compõem a
metodologia participativa de formação. A ASA Paraíba está
presente em todas as regiões do semiárido paraibano e articula-se numa grande
rede nacional denominada Articulação no Semiárido Brasileiro – ASA BRASIL. Em
20 anos de história vem mobilizando agricultores familiares, propondo e
executando políticas de convivência com o semiárido, por meio da implementação
de tecnologias sociais, de baixo custo e alto poder de difusão. Essas
tecnologias são construídas nas pequenas propriedades, inclusive naquelas de
difícil acesso. Na Paraíba já são 55 mil cisternas, com capacidade de
armazenamento descentralizado de mais de oitocentos e oitenta milhões de litros
de água de beber, efetivadas através do Programa de Formação e Mobilização
Social Para a Convivência com o Semiárido - Um Milhão de Cisternas (P1MC) e de
outras iniciativas, com recurso público e privado, nacional e internacional. Em
preços de hoje, aportamos nas comunidades, só com as cisternas de água de
beber, o equivalente a R$110.000.000,00 (cento e dez milhões de reais). Soma-se
a isso, o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), com centenas de cisternas
para apoio à produção de alimentos, os Bancos Comunitários de Sementes, os
Fundos Rotativos Solidários, entre outras iniciativas que fortalecem o saber
popular, que respeita o meio ambiente e amplia tecnologias simples de estocagem
de água, de sementes, de forragem, de alimento e, sobretudo, de conhecimento.
Dessa forma, a ASA promove a partilha no lugar da concentração, disseminando as
pequenas obras em contrapartida aos projetos faraônicos, valorizando o camponês
enquanto sujeito protagonista, portador de direitos, responsável por sua
própria libertação, desencadeando outro tipo de desenvolvimento, sustentado e
sustentável, que tem por fundamento a
participação, a organização, a educação e o empoderamento das pessoas.
Iniciativas como essas,
aliadas a algumas políticas de distribuição de renda, têm possibilitado a
diminuição dos índices de migração do campo para as cidades, bem como têm
permitido com que, apesar da forte seca, ainda não tenhamos visto acontecer
nenhum saque famélico. Mas, mesmo a seca sendo um fenômeno natural, com o qual
é preciso se adaptar e conviver e não combater, a sede, humana e animal, já é
uma triste realidade, agravada pelo descaso dos governantes, que sabiam que a
estiagem desse ano seria mais forte. Mesmo assim, nos últimos três anos,
nenhuma das 4.550 cisternas, liberadas pelo Ministério de Desenvolvimento
Social – MDS, para o Governo do Estado da Paraíba, foi construída. Tampouco
foram recuperados os açudes comunitários e pequenas barragens que se romperam. Também
nada de Reforma Agrária, pois nos últimos anos as desapropriações de terra para
esse fim na Paraíba se deram apenas para conter conflitos e foram feitas pelo
governo federal. Nada de implementar a Lei
Estadual das Sementes, que tem sido subvertida.
Bons de discurso e lentos
na efetivação das políticas, redundantemente chamadas de públicas, os governos
seguem subsidiando a permanência e a sobrevida da famigerada indústria da seca
que, em ano eleitoral, mais uma vez trocará votos por água, necessidade básica
do ser humano. A mesma água, fonte de vida, que todos dizemos tratar-se de dom
de Deus e direito de todos! Assim, nossos governos, perpetuam a via-crúcis
sertaneja.
Essa triste realidade
exige dos governos, nos 3 níveis, medidas emergenciais e estruturantes junto
aos agricultores familiares.
Emergenciais, como:
abastecimento imediato e gratuito, com água potável, das cisternas já
construídas; revitalização das cacimbas e barreiros; instalação e recuperação
de dessalinizadores; perfuração, recuperação e instalação de poços; liberação
de crédito aos pequenos agricultores; pagamento do seguro safra; liberação
gratuita de ração animal.
Estruturantes, como:
continuidade e fortalecimento dos programas que visam implementar tecnologias
sociais, sobretudo cisternas, para água de beber e produzir; recuperação dos
açudes comunitários que se romperam nos últimos anos; estruturação das pequenas
propriedades com equipamentos adequados à agricultura familiar; retomada de
programas que foram inexplicavelmente parados, como PAA e PNAE; viabilizar
condições para permanente capacitação dos agricultores; recuperação das bacias
hidrográficas do Estado; retomada da política de Reforma Agrária com
participação do estado através do INTERPA; implementação de um programa
estadual de produção e plantio de mudas nativas de nossos dois biomas (Mata
Atlântica e Caatinga); implementação de uma política de educação que seja
contextualizada com a realidade semiárida e que ajude na construção de uma
imagem positiva da região, a partir da diversidade de suas potencialidades,
superando a reprodução histórica e preconceituosa de uma imagem do semiárido
como região-problema para o Brasil.
Mediante esse quadro,
não podemos nos calar. Estamos solidários às milhares de famílias de
agricultores e agricultoras camponesas e atentos aos rumos da política.
Seguiremos mobilizados por um semiárido viável e feliz, com sua produção
diversificada, com sua biodiversidade, sua gente viva, saindo do silêncio
secular, organizando-nos para acessar direitos, para que usemos da palavra,
para que tenhamos vez e voz e possamos dizer o que pensamos de nós, o que
queremos para nossas comunidades, o que acreditamos ser melhor e mais viável
para modificar nossa condição de vida e possamos vislumbrar, de fato e de
direito, a possibilidade de sair da exclusão.
Articulação
no Semiárido Paraibano – ASA PB
Paraíba,
15 de maio de 2012.
Contatos:
-
Alto Sertão: Socorro Goveia (ASPA – 35431291)
-
Médio Sertão: Anchieta (Cáritas – 99612835)
-
Cariri: Célia Araújo (CASACO – 91361298)
-
Borborema: Glória Batista (PATAC – 33224975)
-
Litoral: Arivaldo Sezyshta (Serviço Pastoral dos Migrantes – 88012417)
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