O sol já aparecia na Serra onde fica a Pedra de Santo Antonio na cidade de Fagundes - PB, quando os romeiros e romeiras chegavam à Praça da Matriz de São João Batista de Fagundes, para participarem da 14ª Romaria do Migrante. Evento iniciado pelos Padres Carlistas há 15 anos. Nesse tempo, apenas em 2008 não houve a Romaria. Dessa vez, cerca de 5 mil migrantes reavivaram a sua fé, caminhando na Romaria que não é da paróquia São João Batista, nem da Pastoral dos Migrantes, nem da cidade de Fagundes, mas sim dos migrantes, vindos de tantos lugares, cidades grandes e pequenas, do interior e da capital. Foi sim um ato de fé do povo que sempre acompanhou e fez, deste momento de fé e de luta dos migrantes que habitam estas serras do agreste e cariri Paraibano, um reencontro de comunidades, de jovens, homens e mulheres, ponto alto de um grito pelo fim da migração forçada e muitas vezes escravista, ainda existente em nosso país.
O SPM - Serviço Pastoral dos Migrantes – retomou neste ano com seus projetos em andamento,de convivência com o semi-árido através da mobilização das famílias para a construção de cisterna, de Educação Ambiental, de fortalecimento dos Fundos Solidários e de Combate ao trabalho escravo e degradante, a Romaria do Migrante como um dos pontos altos de uma espiritualidade libertadora. Neste momento de retomada, os romeiros e romeiras chegaram de todas as partes e logo demonstraram sua alegria pelo reencontro. A celebração eucarística foi iniciada um pouco depois das 6h da manhã, presidida pelo padre da Paróquia de Fagundes, Pe. Jaime e concelebrada pelos padres Valdezio, da cidade de Itatuba, e Pe. Alceu, dos Missionários de São Carlos, vindo de São Paulo para esse momento de fé e de reencontro dos migrantes e comunidades onde trabalhou por vários anos.
Celebramos com muita animação a VIDA, o TRABALHO e as ESPERANÇAS de dias melhores para todos aqueles e aquelas que foram forçados e forçadas a deixarem sua terra de origem. Passava das 08h quando iniciamos a caminhada rumo à Pedra de Santo Antonio. Foi feita uma primeira parada para denunciar a violação dos direitos das comunidades e migrantes pela indústria canavieira: “o nosso Deus é o Senhor do Direito e da Justiça”, nos convoca a Palavra do Senhor no Livro do Profeta Isaias e nossa missão é lutar por justiça que é fruto da paz. Aqui foram lembrados os gritos das mulheres dos migrantes temporários que a Pastoral do Migrante ouviu durante as Missões nas cidades de Itatuba e Fagundes nos dias 30, 31/outubro e 01/novembro: gritos da Terra grilada, da Água presa, das propriedades cercadas, das famílias sem trabalho, dos baixos salários, da exploração do trabalho, da migração forçada para o corte da cana ‘nos brejos’ e para a construção civil na capital e no Centro Sul do país, os gritos contra a violação dos Direitos Trabalhistas e Previdenciários.
Continuamos animados e animadas rumo à segunda parada onde anunciamos ‘um novo céu e uma nova terra’: acreditamos que em cada município de origem dos Migrantes é possível construir uma nova cidade, é preciso lutar por um desenvolvimento local, solidário e sustentável, por Políticas Públicas de geração de emprego e renda, garantia de acesso a Terra e Água na região do agreste paraibano, para que nenhuma pessoa se veja forçada a migrar. Esse ato de fé é sinal da nova Jerusalém, ‘lugar onde corre leite e mel’, onde o direito primeiro à vida vão é negado à ninguém. Finalmente, debaixo de um sol quente e de um vento suave e refrescante chegamos à Pedra de Santo Antonio, onde pedimos as bênçãos do Deus da VIDA, sob os pães, os alimentos, a terra e a água, sob as vidas de todos. Partilhamos os pães e a água que mata a sede, num gesto de compromisso na luta por JUSTIÇA e PAZ.
Nesse dia de ação de graças e de luta contamos com a participação de pessoas dos municípios de Caturité, Campina Grande, Fagundes, Itatuba, João Pessoa, Bayeux, Santa Rita, Cruz do Espírito Santo e outros da região de origem dos migrantes. Foi um dia forte de afirmação de nossa presença Pastoral e Evangélica no meio dos Migrantes e excluídos. Este momento trouxe aos romeiros e romeiras a certeza de que a Fé deve estar também a serviço de uma cidadania amadurecida e de um povo que não perde a esperança na possibilidade de viver com dignidade em seu próprio torrão. Vimos tantas pessoas idosas, crianças e especialmente uma juventude ardorosa e comprometida, que clama por atenção e espaço, na vida do país, na política, nas nossas igrejas.
Junto com esses jovens e com todos os migrantes reafirmamos nosso compromisso de luta, pois acreditamos em “todos os direitos para todas as pessoas”. Renovamos nossa missão de lutar pela Paz fazendo acontecer a Justiça.
Equipe da Pastoral dos Migrantes da Paraíba
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