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quarta-feira, 9 de julho de 2008

NAS ASAS DO SONHO

Nas asas do sonho partem os migrantes,

aos milhares e milhões põem-se em marcha;

das terras do desemprego e da fome

rumam em direção às terras do trabalho e do pão;

rompem leis, fronteiras e obstáculos,

fortes e frágeis na luta pela vida.


Mas a cada esquina tropeçam e caem

com os mil rostos e mil ciladas da morte:

morte filha do tráfico e da violência,

que cedo ceifa a flor da juventude;

morte filha do trabalho explorado e escravo,

que cansa antes do amanhecer e encurva antes dos trinta;

morte indefesa e inocente, filha da indiferença,

que se alimenta de vidas não nascidas;

morte em meio às tempestades da travessia,

que no mar ou no deserto frusta o sonho;

morte filha da pobreza e da inanição,

que a conta-gotas mata os desenraizados;

morte da fauna e da flora, grito da terra devastada,

a bio em suas distintas formas ameaçada.


Morte nas ruas, cotidiana, quase “cultural”,

sangue quente na telinha e nas páginas do jornal;

morte do planeta, destruição do meio ambiente,

água e ar, rios e florestas, animais e gente!

morte espetáculo, na cidade e no campo, banal;

espalha silêncio e medo, como coisa natural.


Teimosos, voltam a erguer-se o sonho e o migrante;

nas asas do vento, vencem ambos o caminho;

o sonho se faz raiz, se faz broto e se faz tronco,

se faz árvore, se faz flor se faz fruto;

no chão de uma nova pátria planta raízes,

que hão de forjar uma cidadania sem fronteiras,

onde acima da raça, língua ou cultura, está a vida.



Pe. Alfredo J. Gonçalves

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