Nas asas do sonho partem os migrantes,
aos milhares e milhões põem-se em marcha;
das terras do desemprego e da fome
rumam em direção às terras do trabalho e do pão;
rompem leis, fronteiras e obstáculos,
Mas a cada esquina tropeçam e caem
com os mil rostos e mil ciladas da morte:
morte filha do tráfico e da violência,
que cedo ceifa a flor da juventude;
morte filha do trabalho explorado e escravo,
que cansa antes do amanhecer e encurva antes dos trinta;
morte indefesa e inocente, filha da indiferença,
que se alimenta de vidas não nascidas;
morte em meio às tempestades da travessia,
que no mar ou no deserto frusta o sonho;
morte filha da pobreza e da inanição,
que a conta-gotas mata os desenraizados;
morte da fauna e da flora, grito da terra devastada,
Morte nas ruas, cotidiana, quase “cultural”,
sangue quente na telinha e nas páginas do jornal;
morte do planeta, destruição do meio ambiente,
água e ar, rios e florestas, animais e gente!
morte espetáculo, na cidade e no campo, banal;
Teimosos, voltam a erguer-se o sonho e o migrante;
nas asas do vento, vencem ambos o caminho;
o sonho se faz raiz, se faz broto e se faz tronco,
se faz árvore, se faz flor se faz fruto;
no chão de uma nova pátria planta raízes,
que hão de forjar uma cidadania sem fronteiras,
onde acima da raça, língua ou cultura, está a vida.
Pe. Alfredo J. Gonçalves
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